segunda-feira, 29 de abril de 2024

"Os Ventos" - Poema de Álvaro Pacheco


Tivadar Csontváry Kosztka (Hungarian painter, 1853–1919), The Lonely Cedar, 1907,
Csontváry Museum, Pécs.


Os Ventos


Não há, nos ventos,
a liberdade da morte,
embora estejam implacáveis e
jamais perdoem as folhas secas.

Todos os ventos têm nome
mas não se conhece nenhum
de perto, embora
se agarrem a você
e desorganizem a harmonia.

Os ventos não têm forma
mas sabemos todas as suas aspirações
e os seus amores com o mar e as árvores.

Os ventos não têm a liberdade da morte
diluídos na essência
do que nunca aconteceu.


Álvaro Pacheco, do livro "A geometria dos ventos".
Rio de Janeiro: Record, 1992.


Álvaro Pacheco, "A geometria dos ventos" - 173 páginas.
Rio de Janeiro: Editora Record, 1992.
 
 
SINOPSE
 
Utilizando palavras que definem um instante qualquer, Álvaro Pacheco intensifica a vida, exaltando os dias, as pessoas, o que sentem e o que talvez não deveriam sentir. Existe uma brecha para os sentidos esquecidos e não realizados. Voando em palavras como "infinito", "génese" e "orgasmo" (sempre presentes), o autor escreve bem longe das linhas imaginárias da compreensão, distante do estereótipo, aquém do coração. Em "A Geometria dos Ventos", existe a vida daquele que sabe de sua existência, seus "infinitos segundos" que talvez não passem deste dia. Há necessidade de predizer o sono, de separar-se do coração, de lembrar de tudo que não foi dito, mesmo estando muito próximo. "Não foi para isso que viajamos tanto...?"
E ao entender que às vezes que a morte é feita com vida (podendo ser visto em "A Balada do Nadador do Infinito"), Álvaro Pacheco mostra a impossibilidade de viver sem algumas "migalhas" de sentimento, como a mulher em fuga e seus comprimidos para dormir, como a planta que não vinga à pedra, como o homem que por tantas vezes é só e não sabe mais das suas decisões. (daqui)
 

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