Paul Ranson (French painter and writer associated with Les Nabis, 1861-1909),
Three Beeches, c. 1905, Private collection.
O Homem e os outros seres
Quando, às vezes, eu saio, à tarde, a passear,
As aves e os répteis e os outros animais,
Todos fogem de mim, ao verem-me passar
E tremores de susto agitam os silvais…
Os vales sem ninguém meu ser enche de medo...
De pânico eu inundo as sebes dos caminhos.
E, sempre que me sento à sombra do arvoredo,
Há calefrios de terror dentro dos ninhos…
E eu, que sonho a Piedade e que desejo o Amor,
Que ao ver a Criação me sinto comovido.
Tenho um grande desgosto e uma profunda dor,
Ao ver-me, ó Natureza, assim incompreendido
Por tudo quanto eu amo enternecidamente.
As estrelas, o azul, as nuvens e o luar...
De que serve a consciência ao pé do inconsciente?
Se há só trevas não é preciso ter olhar…
Tu vinhas ter comigo, ó pedra, se me ouvisses,
E vós, ondas do mar, e vós, altos espaços!
Se o que eu sinto por ti, ó ave, pressentisses.
Tu farias, decerto, o ninho nos meus braços!...
Mas, na minha tristeza, eu tenho esta visão
Do amor que há de reinar em toda a criatura.
Do laço que há de unir o humano coração
Ao rochedo que sonha e à nuvem que murmura…
Julgo que vou subindo a encosta duma serra
E que nas árvores fulge o luar da Piedade...
E que as aves do céu e os animais da terra
Projetam sobre mim uns olhos de bondade...
Teixeira de Pascoaes, Para a Luz, 1904
Quando, às vezes, eu saio, à tarde, a passear,
As aves e os répteis e os outros animais,
Todos fogem de mim, ao verem-me passar
E tremores de susto agitam os silvais…
Os vales sem ninguém meu ser enche de medo...
De pânico eu inundo as sebes dos caminhos.
E, sempre que me sento à sombra do arvoredo,
Há calefrios de terror dentro dos ninhos…
E eu, que sonho a Piedade e que desejo o Amor,
Que ao ver a Criação me sinto comovido.
Tenho um grande desgosto e uma profunda dor,
Ao ver-me, ó Natureza, assim incompreendido
Por tudo quanto eu amo enternecidamente.
As estrelas, o azul, as nuvens e o luar...
De que serve a consciência ao pé do inconsciente?
Se há só trevas não é preciso ter olhar…
Tu vinhas ter comigo, ó pedra, se me ouvisses,
E vós, ondas do mar, e vós, altos espaços!
Se o que eu sinto por ti, ó ave, pressentisses.
Tu farias, decerto, o ninho nos meus braços!...
Mas, na minha tristeza, eu tenho esta visão
Do amor que há de reinar em toda a criatura.
Do laço que há de unir o humano coração
Ao rochedo que sonha e à nuvem que murmura…
Julgo que vou subindo a encosta duma serra
E que nas árvores fulge o luar da Piedade...
E que as aves do céu e os animais da terra
Projetam sobre mim uns olhos de bondade...
Teixeira de Pascoaes, Para a Luz, 1904
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