quinta-feira, 11 de abril de 2024

"Poema de Abril" - Sidónio Muralha



Ilustração de Joana Mundana, "Proteger Abril"
 
 

Poema de Abril


A farda dos homens
voltou a ser pele
(porque a vocação
de tudo o que é vivo
é voltar às fontes).
Foi este o prodígio
do povo ultrajado,
do povo banido
que trouxe das trevas
pedaços de sol.

Foi este o prodígio
de um dia de Abril,
que fez das mordaças
bandeiras ao alto,
arrancou as grades,
libertou os pulsos,
e mostrou aos presos
que graças a eles
a farda dos homens
voltou a ser pele.

Ficou a herança
de erros e buracos
nas árduas ladeiras
a serem subidas
com os pés descalços,
mas no sofrimento
a farda dos homens
voltou a ser pele
e das baionetas
irromperam flores.

Minha pátria linda
de cabelos soltos
correndo no vento,
sinto um arrepio
de areia e de mar
ao ver-te feliz.
Com as mãos vazias
vamos trabalhar,
a farda dos homens
voltou a ser pele.


Sidónio Muralha (1920 - 1982),
Poemas de Abril. Lisboa : Prelo, 1974


Poemas de Abril de Sidónio Muralha
Lisboa : Prelo, 1974. Páginas: 92
 

Poemas de Abril
Prefácio

"No coração dos patriotas antifascistas jamais feneceu a flor da esperança nem esmoreceu o desejo de luta na prossecução do alvo de toda a vida: transformar os anseios de libertação em realidade libertadora. Mas deviam escoar-se três décadas completas, antes que as massas trabalhadoras, com a histórica e decisiva iniciativa do Movimento das Forças Armadas, derrubassem definitivamente o regime fascista." – in Prefácio de Alexandre Cabral
 

Ilustração de Joana Molho, "Liberdade"
 

"Não o prazer, não a glória, não o poder: a liberdade, unicamente a liberdade."

In "Livro do Desassossego" por Bernardo Soares. Vol.II. Fernando Pessoa

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