quarta-feira, 10 de abril de 2024

"Não cultives a fraqueza" - Poema de Francisco Miguel Duarte


Jakub Schikaneder (Bohemian painter, 1855–1924), The Sad Way, 1886-87.



Não cultives a fraqueza


Vive o fraco na fraqueza
o bom na sua bondade
vive o firme na firmeza
lutando por liberdade.

Não cultives a fraqueza,
procura sempre ser forte,
que o homem que tem firmeza
não se rende nem à morte.

Educa a tua vontade
faz-te firme: em decisões,
que não terá liberdade
quem não fizer revoluções.

Se queres o mundo melhor
vem cá pôr a tua pedra,
quem da luta fica fora
neste jogo nunca medra.


Francisco Miguel Duarte

(1907–1988)
 

Jakub Schikaneder, The Last Journey, c. 1880 
 
 
 
Revolução

 
Presume-se que o termo revolução foi importado da Astronomia, a qual assim designa a descrição de uma órbita completa de um corpo celeste. O uso do termo viria a conferir o seu significado atual, que radica na conversão da Revolução Francesa como revolução por antonomásia. Assim, a partir deste modelo de revolução, temos uma primeira definição desta como mudança radical de ideias. Revolutio é o étimo latino de revolução, embora sem o significado atual. Usava-se para designar a sucessiva passagem de um corpo de um estado a outro, ou então a "volta de algo" (re + volvere). Revolutio é a substantivação do adjetivo revolutus, particípio passado de revolvo, revolver, revolutum. Voltar de novo, dar voltas, mas também voltar ao mesmo: no plano das ideias esta última significação não tem sentido, pois perde o valor histórico que o uso do termo conferiu. Ou seja, "voltar ao mesmo" não é revolução.

Como se viu, o termo, no seu sentido atual, baseia-se na Revolução Francesa de 1789, caracterizada por uma mudança radical no plano das ideias, a qual arrastou profundas alterações nas formas de vida e no quadro das relações humanas. Da "fraternidade", que confirma a "igualdade" - elementos de mudança dessa revolução - chegou-se às palavras-chave de uma outra revolução paradigmática, a socialista: luta de classes, valor do trabalho, entre outras.

A revolução ganhou assim um cunho essencialmente político-ideológico, tornando-se, pela via marxista, o elemento-chave para a transformação do curso da história e como motor do processo mudança na conceção do poder. Aqui, através da Revolução Russa, dita socialista, de outubro de 1917, a revolução ganhou contornos de violência, tornou-se génese de luta armada como forma de um grupo, maioritário ou formado por pequenos grupos revolucionários, mudar o rumo político de um país. A revolução passou a ter, a partir da Comuna de Paris (1870) e desta Revolução Russa de 1917 ou da de Cuba em 1959, um significado de transformação violenta. Uma revolta, acontecimento isolado e mais fugaz, pode redundar numa revolução de carácter político-militar (que será assim um conjunto de revoltas, em certa medida).

Mas o termo revolução tem também uma natureza pacífica, quando essencialmente relacionado com a ciência e a tecnologia, a cultura e o pensamento, ou mesmo com a própria sociedade. Nesta, por exemplo, recorde-se a revolução feminista ao longo da segunda metade do século XX, mas com raízes anteriores. Nas ciências e na tecnologia, as descobertas do século XIX, o racionalismo, o empirismo e a industrialização, a partir das conceções liberais que a própria Revolução Francesa desencadeou, agrupam-se num todo que é a chamada revolução científica e tecnológica. Esta não é tão rápida como as de natureza política ou militar, mas pelo seu pendor para a mudança de mentalidades, comportamentos e progressos científicos operados, poderá ser designada como uma revolução constituída por um conjunto de pequenas revoluções que são as descobertas ou as invenções, algo que opera mudanças. Como exemplos destas revoluções, recordemos a invenção da imprensa de caracteres móveis, por Gutenberg (anos 40 do século XV), a própria Revolução Industrial do século XIX ou a revolução informática na segunda metade de Novecentos.

Mais lentas são as revoluções/alterações no campo das mentalidades, já que envolve processos operativos de alteração com maiores resistências e processos de perenidade fortemente enraizados não só nos grupos como em cada indivíduo. O Renascimento ou a Reforma Católica, por exemplo, são "revoluções" culturais e mentais lentas, como também o foram a revolução sexual dos anos 60/70.


Revoluções 
(apenas o nome por que são conhecidas)
 
  • Liberais
1524-25   (Guerra) dos Camponeses
1642-1653   Primeira revolução inglesa (republicanismo)
1688-89   "Gloriosa" na Inglaterra (monarquia constitucional)
1776   Americana
1789   Francesa
1830   Revoluções de 1830 (Europa, anti-absolutistas)
1848   Revoluções de 1848 (Europa)
1905   Russa (Domingo Sangrento; Couraçado Potemkine)
1910 (-1920)   Mexicana (derrube de Porfírio Diaz)
1911   Chinesa ou de Xin Hai (derrube da dinastia Qing)
1918   Alemã (república de Weimar)
1954-62   Argelina
1968   maio '68
1974  25 de Abril de 1974 (dita dos "Cravos")
1979   Nicarágua
1998   Indonésia
2000   outubro (Sérvia, derrube de Slobodan Milosevic)

  • Socialistas
1919   Insurreição espartakista alemã (Rosa Luxemburgo, Karl Liebknecht)
1936   Espanhola

  • Antissoviéticas
1956   Húngara
1968   primavera de Praga
1988   "Cantante", estónia
1989   Revolução Checa de 1989

  • Marxistas-leninistas
1917   Russa (fevereiro, Menchevique – outubro, Bolchevique)
1920   Mongólia
1948   Coreia do Norte
1919, 1944 e 1949   Hungria
1949   China
1952   Bolívia
1954   Vietname do Norte
1958   Iraque
1959   Cubana
1964 e 1968   Congo
1966 (-1976)   Cultural Chinesa
1967   Iémen do Sul
1969   Líbia
1969  Somália
1972   Benim
1974   Etiópia
1974   Guiné-Bissau
1975   Camboja
1975   Vietname do Sul
1975   Laos
1975   Madagáscar
1975   Cabo Verde
1975   Moçambique
1975   Angola
1978   Afeganistão
1979   Granada
1979   Nicarágua
1983   Burkina Faso (Alto Volta)

  • Islâmicas
1979   Irão
1996   Taliban (Afeganistão) 
(daqui)
 

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