O segredo é amar. Amar a Vida
com tudo o que há de bom e mau em nós.
Amar a hora breve e apetecida,
ouvir os sons em cada voz
e ver todos os céus em cada olhar.
Amar por mil razões e sem razão.
Amar, só por amar,
com os nervos, o sangue, o coração.
Viver em cada instante a eternidade
e ver, na própria sombra, claridade.
O segredo é amar, mas amar com prazer,
sem limites, fronteiras, horizonte.
Beber em cada fonte,
florir em cada flor,
nascer em cada ninho,
sorver a terra inteira como o vinho.
Amar o ramo em flor que há de nascer,
de cada obscura, tímida raiz.
Amar em cada pedra, em cada ser,
S. Francisco de Assis.
Amar o tronco, a folha verde,
amar cada alegria, cada mágoa,
pois um beijo de amor jamais se perde
in "Trinta e Nove Poemas" , 1942
Maria Fernanda Teles de Castro e Quadros Ferro (1900-1994),
romancista, poeta e conferencista portuguesa, conhecida pelo seu nome de
solteira, com vasta e diversificada obra, escreveu poesia, literatura
infantil, romance e memórias. Filha de um oficial da Marinha ficou órfã
de mãe aos doze anos. Estudou em Portimão, Figueira da Foz e Lisboa,
tendo frequentado, nesta cidade, os Liceus D. Maria Pia e Passos Manuel.
Começou por escrever livros infantis com sucesso nomeadamente "Mariazinha em África", 1926; "A Princesa dos Sete Castelos" e "As Novas Aventuras de Mariazinha",
1935. Conheceu África que transmitiu com talento nos seus livros.
Casada com António Ferro, jornalista e homem forte do regime de Salazar,
promoveu a cultura no país e estrangeiro em importantes exposições.
Criou e desenvolveu, nos anos trinta, a Associação Nacional dos Parques
Infantis, dadas as suas excelentes relações com as mais altas instâncias
governamentais. A sua poesia é francamente inspirada e está de novo a
ser divulgada. Destacam-se "Asa no Espaço", 1955; "Poesia I e II", 1969, "Urgente",
1989. David Mourão-Ferreira elogia vivamente a sensualidade feminina
dessa poesia. Fernanda de Castro recebeu, em 1969 o Prémio Nacional de
Poesia e recebera em 1945 o Prémio Ricardo Malheiros pelo romance "Maria da Lua".
Escreveu até praticamente ao fim da vida, embora nos últimos anos a
doença a retivesse na cama. Foi mãe do escritor António Quadros e avó
da escritora Rita Ferro. Escreveu “Ao Fim da Memória: Memórias (1906-1986)”, 1986. (Daqui)
George Goodwin Kilburne, Maiden meditation, 1866 (watercolour)
Herdei uns olhos claros, sem pecado,
toda uma tradição, todo um passado,
de inocência, de amor e de perdão.
Um desejo de paz, de vida calma,
uma alma capaz de só ser alma,
E um doloroso, humano coração.
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