Alfred Stevens, Portrait of a young lady, 1906
Para os livros, cujo perfume
Para os livros, cujo perfume
de campo e verniz fascinava
meus olhos e meu pensamento,
não tenho tempo.
Para a flor, o linho, a ramagem,
a cor, que me arrastavam como
por um bosque múrmuro e denso,
não tenho tempo.
Nem para o mar, nem para as nuvens,
nem para a estrela que adorava
não tenho, não tenho, não tenho
não tenho tempo.
Canta o pássaro inútil ritmo,
os homens passam como sombras,
e o mundo é um largo e doido vento.
Não tenho tempo.
Longe, sozinha, arrebatada,
entro no círculo secreto
e a mim mesma não me pertenço.
Não tenho tempo.
Oh, tantas coisas, tantas coisas
que a alma servira com delícia...
(São nebulosas de silêncio...)
Não tenho tempo.
Lágrimas detidas – meus olhos.
Sofro, porém já não batalho
entre saudade e esquecimento.
Não tenho tempo.
Aonde me levam? Que destino
governa a delirante vida?
Nem hei de morrer como penso.
Não tenho tempo.
Tão longe esforço, e tão penoso
- e agora fechado o horizonte.
Ó vida, inefável momento,
- não tenho tempo...
“O Porto é o lugar onde para mim começam as maravilhas e todas as angústias.”
(Sophia de Mello Breyner Andresen)
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