Édouard Manet, Rochefort's Escape (L'évasion de Rochefort), 1881
Onde o mar falta
Entreabertas as pernas, e pousada
de leve, sobre os ombros, a cabeça,
parecias às vezes, derramada
no fundo, mais espessa.
E eras líquida: vias, através
de tua própria sombra transparente
a luminosidade dos teus pés,
alados. Porque ausente.
Jamais dizias nada. Sempre tinhas
entre os lábios, a voz silenciosa
dos que voltam. Onda após onda, vinhas
(e vens) misteriosa.
Desde a profundidade, do mar. Brusco
nas suas reações, onde o mar falta
sob as ondas, aí, aí te busco —
e és, como as ondas, alta.
Quando olho o horizonte: quando tudo
se dissolve em si mesmo e, onda após
onda, me calo. Vejo, e estou mudo.
O mar na tua voz.
Porque vias o mar (tinhas o mar
no olhar) fechando os olhos. E defronte
o víamos surgir. Bastava olhar,
que tudo era horizonte.
Octávio Mora, in 'Terra Imóvel'
Octávio Mora (1933-2012), poeta nascido na Argentina e radicado no Brasil, participou da Geração de 1945 da poesia brasileira.
Aposentou-se como professor titular de Literatura n UFRJ. Estreou em poesia com o livro Ausência viva (1956). Depois publicou Terra imóvel (1959). A esses se seguiram Corpo habitável (1967), Pulso horário (1968), Saldo prévio (1968) e Exílio urbano (1975).
Também formado em Medicina, exerceu durante alguns anos a profissão de médico.
Dulce Pontes e Andrea Bocelli - O Mar E Tu
"O tempo é teu capital; tens de o saber utilizar. Perder tempo é estragar a vida."
(Franz Kafka)
Sem comentários:
Enviar um comentário