Sir John Lavery (Northern Irish painter, 1856–1941), Self-Portrait, 1928.
National Museums Northern Ireland
Mãe, eu estou tão cansado
Mãe, eu estou tão cansado e sinto nos ossos
o chamamento da água, o chamamento sibilino
que se confunde com o ranger das portas das casas
onde jamais voltarei: venha veloz o sono capaz
de me resgatar e que dentro dele se perfilem
as sombras e os gestos, exército dos meus medos
mais secretos, temores enrodilhados na roupa húmida
das camas. Mãe, a luz não se demora no meu quarto,
morre nas corolas das flores que trouxeste
para o riso não murchar, e eu fico doente só de olhar
os muros onde a hera é espiral de espanto, raiz
de uma enfermidade latente. Não voltarei
às actas do desespero, que são sombrias e magras
como os corpos dos amantes que definham sobre a areia
na fúria da maré, com uma gramática de murmúrios
escondida na solidão branca das dunas, mãe.
José Jorge Letria, in "Actas da Desordem do Dia"
Sir John Lavery, On the Riviera / The Honeymoon, 1921
Quietude profunda —
De quando em quando uma brisa
e a queda de pétalas.
Teruko Oda
Quietude profunda —
De quando em quando uma brisa
e a queda de pétalas.
Teruko Oda
(Haicai / Haikai / Haiku)
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