domingo, 10 de janeiro de 2016

"Ode a Lídia" - Poema de Jayro José Xavier


Pintura de Andre Kohn



Ode a Lídia


Esta súbita chuva que desaba 
pela pele morena 
de teu rosto 
por teu riso por teus ombros 
pelos teus longos 
cabelos 
cai na terra 
— ouve bem — 

com o peso, o 
doce peso de milénios 

Pois verdade é que outra 
é a água 
mas a mesma 
(escorrendo pela 
gloriosa nudez 
de teu corpo) 
mesmo o cheiro húmido 
da terra, mesmo 
nas árvores 
o áspero, esperado canto 
de verão 

Tudo, nada mudou 

Bebe pois desta água 
bebe 
bebe com todo o teu corpo 
até que toda te farte 
bebe 
até que te embriague 
a milenar 
experiência 
do planeta 

Bebe e 
(sábia) 
colhe nas mãos o momento 
que esvoaça 
— este breve momento em que 
como duas crianças 
somos 
e amamos 


Jayro José Xavier, in 'Enquanto Vivemos' 


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