Emile Claus (Belgian painter, 1849 –1924), The Picknick, 1887
Notícias do Paraíso
No paraíso a semana de trabalho é de trinta horas
os salários são elevados e os preços descem regularmente
o trabalho manual não é cansativo (devido à reduzida gravidade)
derrubar árvores não é mais pesado do que datilografar
o sistema social é estável e as leis são sábias
na verdade no paraíso vive-se melhor do que em qualquer outro lado
A princípio era para ter sido diferente
círculos luminosos coros e graus de abstração
mas não foram capazes de separar completamente
o espírito da carne de tal modo que quem chega
traz sempre uma gota de gordura uma fibra de músculo
foi necessário enfrentar as consequências
misturar um grão de absoluto com um grão de argila
mais um desvio da doutrina o último desvio
só o apostolo João o entreviu: ressuscitaremos na carne
São poucos os que acreditam em Deus
isso é só para aqueles cem por cento pneuma
os outros ouvem os comunicados sobre milagres e dilúvios
um dia Deus revelar-se-á a todos
quando irá isso acontecer ninguém sabe
Como agora todos os sábados ao meio-dia
as sirenes tocam docemente
e das fábricas saem os proletários celestes
envergonhados debaixo dos braços carregam as suas asas como violinos
(1924 – 1998)
Tradução de Jorge de Sousa Braga a partir da versão inglesa de Czesław Miłosz
Emile Claus, Bringing in the Nets, 1893
"Quando o meu amigo está infeliz, vou ao seu encontro; quando está feliz, espero por ele."
Sem comentários:
Enviar um comentário