Riso e pranto
Duas frações o grande todo humano
encerra: uma que ri, outra que chora.
Dúplice monstro, contrastando Jano,
tem numa face - a noite e noutra - a aurora.
Mas em seu seio eternamente mora,
como o pólipo no profundo oceano,
a dor que o riso mentiroso inflora,
a mesma dor que verte o pranto insano.
Basta que riso ou lágrima ressume
da contração de um músculo irritado,
temos amor, pesar, ódio ou ciúme.
Nem sempre o riso é uma expressão de agrado,
e às vezes quem mais chora se presume
feliz, por parecer mais desgraçado.
em "Símbolos", 1892
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