quinta-feira, 16 de julho de 2015

"A Língua Portuguesa" - Poema de Alberto de Lacerda


 Fotografia de Rui Videira - Rio Douro, Porto, Portugal 



A Língua Portuguesa 


Esta língua que eu amo
Com seu bárbaro lanho
Seu mel
Seu helénico sal
E azeitona
Esta limpidez
Que se nimba
De surda
Quanta vez
Esta maravilha
Assassinadíssima
Por quase todos os que a falam
Este requebro
Esta ânfora
Cantante
Esta máscula espada
Graciosíssima
Capaz de brandir os caminhos todos
De todos os ares
De todas as danças
Esta voz
Esta língua
Soberba
Capaz de todas as cores
Todos os riscos
De expressão
(E ganha sempre a partida)
Esta língua portuguesa
Capaz de tudo
Como uma mulher realmente
Apaixonada
Esta língua
É minha Índia constante
Minha núpcia ininterrupta
Meu amor para sempre
Minha libertinagem
Minha eterna
Virgindade.


«A Língua Portuguesa» in Exílio in Oferenda I,
 Lisboa, IN-­CM, 1984, pp. 316-317)


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