Giacomo Balla, Voo das Andorinhas, 1913, Têmpera sobre papel
Romance
Por noite velha, truz truz,
Bateram à minha porta.
— De onde vens, ó minha alma?
— Venho morta, quase morta.
Já eu mal a conhecia,
De tão mudada que vinha;
Trazia todas quebradas
Suas asas de andorinha.
Mandei-lhe fazer a ceia,
Do melhor manjar que havia.
— De onde vens, ó minha alma,
Que já mal te conhecia?
Mas a minha alma, calada,
Olhava e eu não respondia;
E nos seus formosos olhos
Quantas tristezas havia!
Mandei-lhe fazer a cama
Da melhor roupa que tinha
«Por cima damasco roxo
Por baixo cambraia fina».
— Dorme, dorme ó minha alma,
Dorme e, para te embalar,
A boca me está cantando
Com vontade de chorar.
Ilhas de Bruma, 1917
Museu de Arte Moderna de Nova York.
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