sábado, 19 de julho de 2025

"Mãe" - Poema de Alfredo Brochado



Frederick Childe Hassam (American Impressionist painter, 1859–1935),
Summer Evening, 1886, Florence Griswold Museum.



Mãe

I

Dantes, quando a deixava,
As férias já no fim,
Ela vinha à janela
Despedir-se de mim.

Depois, quando na estrada,
Olhava para trás,
Deitava-me ainda a bênção
Para que eu fosse em paz.

Dali não se movia,
À vidraça encostada,
Até que eu me perdia
Já na curva da estrada.

Hoje, se olho, calo-me
E baixo os olhos meus!
Já não vem à janela
Para dizer-me adeus!

II

Chove, e a chuva é fria.
Noite! Nos montes distantes
O Inverno principia.
Um Inverno como dantes.

Ao redor do lume aceso
Todos ficamos a olhar...
Todos não, não somos todos,
Porque há vazio um lugar.

Esse lugar era o dela,
Que ninguém mais preencheu.
Mesmo com vida, na terra,
Era uma estrela no céu.


Alfredo Brochado, in 'Bosque Sagrado'



Alfredo Brochado, Bosque Sagrado - Poemas, 1949
Portugália Editora
 

"Cada homem é uma humanidade, uma história universal."

Jules Michelet, in Histoire de France
éd. Chamerot, 1861, vol. 4.
 
 

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