quarta-feira, 30 de julho de 2025

"O Boi" - Poema de Olavo Bilac

 


António da Silva Porto
 (Pintor português, 1850-1893), A Salmeja, 1884, óleo sobre tela.
Museu de José Malhoa



O Boi


Quando ainda no céu não se percebe a aurora,
E ainda está molhando as árvores o orvalho,
Sai pelo campo afora
O boi, para o trabalho.

Com que calma obedece!
Caminha sem parar:
E o sol, quando aparece,
Já o encontra, robusto e manso, a trabalhar.

Forte e meigo animal! Que bondade serena
Tem na doce expressão da face resignada!
Nem se revolta, quando o lavrador, sem pena,
Para o instigar, lhe crava a ponta da aguilhada.

Cai-lhe de rijo o sol sobre o largo cachaço;
Zumbem moscas sobre ele, e picam-no sem dó;
Porém, indiferente às dores e ao cansaço,
Caminha o grande boi, numa nuvem de pó.

Lá vai pausadamente o grande boi marchando...
E, por ele puxado,
Larga e profundamente o solo retalhando,
Vai o possante arado.

Desce a noite. O luar fulgura sobre os campos.
Cessa a vida rural.
Há estrelas no céu. Na terra há pirilampos.
E o boi, para dormir, regressa ao seu curral... 


Olavo Bilac, em Poesias infantis.
RJ: Francisco Alves, 1929.




Tomás da Anunciação (Pintor português, 1818–1879)O Vitelo, 1871.
Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado



"Até que alguém ame um animal, uma parte da sua alma permanece adormecida."

Anatole France

(Nobel de Literatura, 1921)



Retrato de Tomás José da Anunciação, 1860's,
gravura de Joaquim Pedro de Sousa,
no Museu do Chiado

Tomás José da Anunciação, pintor português, nascido em 1818 e falecido em 1879, estudou pintura em Portugal com Norberto José Ribeiro, António Manuel da Fonseca e Benjamim Comte, e em França com Palizzi e Yvon. Destacou-se sobretudo no âmbito da pintura de animais, apesar de ter pintado também paisagens e feito cópias de quadros antigos.
A sua obra, revelando minuciosamente os detalhes mais ínfimos, manifesta influências tanto do romantismo como do naturalismo realista. Participou em exposições como as 3.ª e 4.ª Exposições Trienais da Academia Real de Belas Artes, em 1852 e 1856, na 1.ª Exposição da Sociedade Promotora de Belas-Artes, na Exposição Universal de Paris (1867) e na Exposição de Madrid (1871).
Foi diretor da Real Galeria de Pintura do Palácio Nacional da Ajuda, professor de Pintura da Paisagem e de Desenho do Antigo na Real Academia de Belas-Artes e seu diretor interino.
O seu quadro mais conhecido é "O Vitelo" (1871), que se encontra no Museu Nacional de Arte Contemporânea, mas também se encontram outras obras deste pintor noutros museus como a Casa-Museu dos Patudos de Alpiarça, o Museu Grão-Vasco de Viseu e o Solar do Monteiro-Mor do Juncal, na Extremadura. (daqui)

 

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