sábado, 26 de julho de 2025

"Sabedoria Infantil" - Poema de Carlos Vogt

 

 
Victor Gabriel Gilbert
(French social realist painter, 1847 - 1935),
'In the Park with Grandmother'



Sabedoria Infantil 

 
Para falar a verdade,
esta cheia de meandros, meios, caminhos, pântanos, voltas e volteios,
a verdade, enfim, que conhecemos clara
como se vista através de um biombo disfarçando intimidades.

Para falar a verdade
nua, crua, transparente e limpa
nada mais próprio que um sonho de menina.


Carlos Vogt, in Metalurgia,
Companhia das Letras, 1991.



Victor Gabriel Gilbert, 'Time for Lunch'


Infância 

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chamava-se «Agora». 


Guilherme de Almeida,
in "Os Melhores Poemas de Guilherme de Almeida",
São Paulo, 1993
 
 

"Os Melhores Poemas de Guilherme de Almeida"
Global Editora, 3ª Edição.
 

RESUMO 

Guilherme de Almeida
(Campinas, SP, 1890 – São Paulo, SP, 1969) viveu uma longa fase da história da poesia brasileira, que se estende do período crepuscular que antecedeu o modernismo ao surgimento e consolidação de movimentos como o concretismo ou a poesia praxis, chocantes à sua sensibilidade educada nos velhos clássicos. Foi mais de meio século de atividade, em que o poeta exibiu um raro virtuosismo e domínio da língua, compondo poemas de sabor camoniano (Camoniana, 1956), recriando a atmosfera de velhos romances populares portugueses (Pequeno Romanceiro, 1957), parodiando a poesia grega clássica (A Frauta que eu Perdi, 1924), cultivando o verso parnasiano, simbolista, modernista (Meu, Raça, Encantamento, todos de 1925), mas sem nunca abandonar a nota romântica, predominante ao longo de toda a sua vasta obra. 
Os seus primeiros livros, anteriores à Semana de Arte Moderna – de Nós (1917) a Era uma Vez... (1922) –, revelam uma poesia de meios-tons, em que o agudo sentimento da beleza se harmoniza com um certo artificialismo, muito ao gosto da sociedade de então. Tanto assim que os seus livros andavam nas mãos de todas as moças. A adesão ao modernismo evidencia um desejo de se ajustar ao gosto do tempo, mas não representa nenhuma mudança significativa em sua obra. Dispensa "a rima e a métrica, mas a alma romântica continua", observa Carlos Vogt no prefácio Melhores Poemas Guilherme de Almeida. O poeta se manteve fiel às suas tendências pessoais, o que lhe foi muito benéfico. Os seus livros desfrutavam de uma popularidade a que nenhum modernista chegava perto. Essa popularidade se manteve até a última fase de sua obra, caracterizada por uma linguagem mais enxuta, menos rica de emoção, mas na qual ainda se sente, um tanto enfraquecida, a voz do velho romântico. (daqui)
 

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