Anton Mauve (Dutch realist painter, 1838–1888), Shepherdess with a Flock of Sheep,
c.1870 - c.1888. Amsterdam, Rijksmuseum.
Insónia
Um dois e três carneiros
saltitam espertos
Mais três como os primeiros
— e eu de olhos abertos…
Sete oito nove dez
fugidos ao seu dono
Já são quarenta pés
— e eu à espera do sono…
Onze bolas de lã
tropeçando à marrada.
Já é quase manhã
— e quanto a dormir nada…
Uma dúzia balindo
(e só sabem balir)
Que rebanho tão lindo
de horas sem dormir!…
Mais cinco dezassete,
mais quatro vinte e um
Esta noite promete
— e eu sem sono nenhum…
Vinte e dois vinte e três…
E mais um par recolho
Já passaram mais dez
— e eu sem pregar olho…
Já lá vão trinta e quatro
se não erro ou não esqueço
Lá vem mais um pacato
— e eu cá não adormeço…
Chega meia centena
a tropeçar na lama
Quem de mim terá pena
sempre às voltas na cama?
Já são oitenta e cinco
mais quinze faz os cem
Eles brincam e eu brinco
sem ter sono também…
Ai se o lobo noturno
atacasse… — que horror!
Por isso é que não durmo
É que eu sou o pastor…
Anthero Monteiro, in "A Lia que lia lia",
Ilustrações de Sara Príncipe,
Elefante Editores / Espinho, 1999.
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