quarta-feira, 29 de março de 2017

"Atravessaremos juntos as grandes espirais" - Poema de Hilda Hilst




Atravessaremos juntos as grandes espirais


Que boca há de roer o tempo? Que rosto 
Há de chegar depois do meu? Quantas vezes 
O tule do meu sopro há de pousar 
Sobre a brancura fremente do teu dorso? 

Atravessaremos juntos as grandes espirais 
A artéria estendida do silêncio, o vão 
O patamar do tempo? 

Quantas vezes dirás: vida, vésper, magna-marinha 
E quantas vezes direi: és meu. E as distendidas 
Tardes, as largas luas, as madrugadas agônicas 
Sem poder tocar-te. Quantas vezes, amor 

Uma nova vertente há de nascer em ti 
E quantas vezes em mim há de morrer. 


in 'Preludios-Intensos para os Desmemoriados do Amor'


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