sexta-feira, 17 de março de 2017

"Que este amor não me cegue nem me siga" - Poema de Hilda Hilst



Albert Chevallier Tayler, The Quiet Hour, 1913



Que este amor não me cegue nem me siga


Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua de estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.

Que este amor só me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça mais pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.

Que este amor só me veja de partida.



in 'Cantares do Sem-Nome e de Partidas' 


Sem comentários: