Paul Gustav Fischer, Portrait of a young woman in a green dress,1913
Oiça vizinha: o melhor
Oiça vizinha: o melhor
É combinarmos o modo
De acabar com este amor
Que me toma o tempo todo.
Passo os meus dias a vê-la
Bordar ao pé da sacada.
Não me tiro da janela,
Não leio, não faço nada...
O seu trabalho é mais brando,
Não lhe prende o pensamento.
Vai conversando, bordando
E acirrando o meu tormento...
O meu, não: abro um artigo
De lei, mas nunca o acabo,
Pois dou de cara consigo
E mando as leis ao diabo.
Ao diabo mando as leis
Com exceção de um artigo
O mil e cinquenta e seis...
Quer conhecê-lo? Eu lho digo:
"Casamento é um contrato
Perpétuo." Este adjetivo
Transmuda o mais lindo parto
No assunto mais repulsivo.
"Perpétuo!" Repare bem
Que artigo cheio de puas
Ainda se não fosse além
Duma semana ou duas...
Olhe tivesse eu mandato
De legislar e poria:
"Casamento é um contrato
Duma hora – até um dia..."
Mas não tenho. É pois melhor
Combinarmos algum modo
De acabar com este amor
Que me toma o tempo todo.
(1873-1929)
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