domingo, 6 de setembro de 2020

"Ó meus irmãos contrários" - Poema de Paul Éluard


Wybrand Hendricks, The Four Chief Commissioners of the Amsterdam Harbor Works, c. 1791-1795

(Group portrait of the four chief commissioners of the ports, quays and cranes in Amsterdam, sitting around a table (from the left to right): Christiaan Scholten, Christiaan van Orsoy, Jan Petrus Scholten van Aschat and Frederick Alexander Vernède. On the table some books, paper and an inkstand. On the back the weapons of the four portrayed men.)


Ó meus irmãos contrários 


Ó meus irmãos contrários que guardais nas vossas pupilas
A noite infusa e o seu horror
Onde vos deixei eu
Com vossas pesadas mãos no azeite preguiçoso
Dos vossos atos antigos
Com tão pouca esperança que a morte tem razão
Ó meus irmãos perdidos
Eu vou para a vida tenho aparência de homem
Para provar que o mundo é feito à minha medida

E não estou só
Mil imagens de mim multiplicam a luz
Mil olhares semelhantes igualam a carne
É a ave é a criança é a rocha é a planície
Que se misturam a nós
O ouro desata a rir ao ver-se fora do abismo
A água o fogo despem-se por uma única estação
Já não há eclipse na fronte do universo. 
 

Paul Éluard.
in "Algumas das Palavras"
Tradução de António Ramos Rosa


Wybrand Hendricks, The Board of Teylers Foundation, 1786


Não calar 


"Há uma regra fundamental quando se vive como nós estamos a viver – em sociedade, porque somos uns animais gregários – que é simplesmente não calar. Não calar! Que isso possa custar em comunidades várias a perda de emprego ou más interpretações já o sabemos, mas também não estamos aqui para agradar a toda a gente. Primeiro, porque é impossível, e segundo, porque se a consciência nos diz que o caminho é este então sigamo-lo e quanto às consequências logo veremos."


José Saramago, in 'Uma Longa Viagem com José Saramago' 

Sem comentários: