sexta-feira, 11 de setembro de 2020

"Sinto na angústia o quem me lembrasse" - Poema de Vergílio Ferreira


Edmund Blair Leighton (British, 1852–1922), Maternity, 1917


Sinto na angústia o quem me lembrasse



Sinto na angústia o quem me lembrasse
e do lembrar a mim como uma ponte
onde de noite já ninguém passasse
viesse a notícia desse outro horizonte

em que o meu grito preso na garganta
dissesse à voz que não ouvi e veio
quanto cansaço inverosímil, quanta
fadiga me enternece como um seio.

Vibrátil voga vaga pela tarde
que em cigarros distrai o eu estar só
a chama obscura que visível arde
quando arde ao sol o pó.


Vergílio Ferreira,
 in 'Conta-Corrente 1'


Edmund Leighton, Stitching the Standard: the lady prepares 
for a knight to go to war, 1911
 


Poema

Inteira
no sabor
de uma dor.
Verdadeira
na cor
de uma flor.
Exata em cada momento,
e no instante do movimento
mentida,
- Vida.

(7/9/48)
in Diário Inédito

 

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