quarta-feira, 9 de setembro de 2020

"O Poeta assassina a Musa" - Poema de Murilo Mendes

Giorgio Vasari, Six Tuscan Poets, c. 1544. From left to right: Marsilio Ficino, Cristoforo Landino
Francesco Petrarca, Giovanni Boccaccio, Dante Alighieri and Guido Cavalcanti.



O Poeta assassina a Musa


Há dez dias que Clotilde
— Uma das musas queridas —
Anda aborrecendo o poeta.
Aparece carinhosa;
De repente vira as costas,
Diz várias coisas amargas,
Bate impaciente com o pé.
Então o poeta aporrinhado
Joga álcool e ateia fogo
Nas vestes da musa.
A musa descabelada
Sai cantando pela rua.
Súbito o corpo grande se estende no chão.

Diversas musas sobressalentes
Desandam a entoar meus cânticos de dor.
Clotilde ressuscitará no terceiro dia,
Clotilde e o poeta farão as pazes.
Música! Bebidas! Venham todos à função.


Murilo Mendes, 'O Visionário', 1941
 

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