Elin Danielson-Gambogi, The Musician, unknown date
O Poeta
E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei!
E no meu lado senti...
Meu Deus! por que não morri?
Por que no sono acordei?
No meu leito adormecida,
Palpitante e abatida,
A amante de meu amor,
Os cabelos recendendo
Nas minhas faces correndo,
Como o luar numa flor!
Senti-lhe o colo cheiroso
Arquejando sequioso
E nos lábios, que entreabria
Lânguida respiração,
Um sonho do coração
Que suspirando morria!
Não era um sonho mentido:
Meu coração iludido
O sentiu e não sonhou...
E sentiu que se perdia
Numa dor que não sabia...
Nem ao menos a beijou!
Soluçou o peito ardente,
Sentiu que a alma demente
Lhe desmaiava a tremer,
Embriagou-se de enleio,
No sono daquele seio
Pensou que ele ia morrer!
Que divino pensamento,
Que vida num só momento
Dentro do peito sentiu...
Não sei!... Dorme no passado
Meu pobre sonho doirado...
Esperança que mentiu...
Sabem as noites do céu
E as luas brancas sem véu
Os prantos que derramei!
Contem do vale as florinhas
Esse amor das noites minhas!
Elas sim... que eu não direi!
E se eu tremendo, senhora,
Viesse pálido agora
Lembrar-vos o sonho meu,
Com a fronte descorada
E com a voz sufocada
Dizer-vos baixo: — Sou eu!
Sou eu! que não esqueci
A noite que não dormi,
Que não foi uma ilusão!
Sou eu que sinto morrer
A esperança de viver...
Que o sinto no coração!
Riríeis das esperanças,
Das minhas loucas lembranças,
Que me desmaiam assim?
Ou então, de noite, a medo
Choraríeis em segredo
Uma lágrima por mim!
Álvares de Azevedo
O Poeta
Un souvenir heureux est peut-être sur terre
Plus vrai que le bonheur.
A. DE MUSSET
Era uma noite: — eu dormia...Plus vrai que le bonheur.
A. DE MUSSET
E nos meus sonhos revia
As ilusões que sonhei!
E no meu lado senti...
Meu Deus! por que não morri?
Por que no sono acordei?
No meu leito adormecida,
Palpitante e abatida,
A amante de meu amor,
Os cabelos recendendo
Nas minhas faces correndo,
Como o luar numa flor!
Senti-lhe o colo cheiroso
Arquejando sequioso
E nos lábios, que entreabria
Lânguida respiração,
Um sonho do coração
Que suspirando morria!
Não era um sonho mentido:
Meu coração iludido
O sentiu e não sonhou...
E sentiu que se perdia
Numa dor que não sabia...
Nem ao menos a beijou!
Soluçou o peito ardente,
Sentiu que a alma demente
Lhe desmaiava a tremer,
Embriagou-se de enleio,
No sono daquele seio
Pensou que ele ia morrer!
Que divino pensamento,
Que vida num só momento
Dentro do peito sentiu...
Não sei!... Dorme no passado
Meu pobre sonho doirado...
Esperança que mentiu...
Sabem as noites do céu
E as luas brancas sem véu
Os prantos que derramei!
Contem do vale as florinhas
Esse amor das noites minhas!
Elas sim... que eu não direi!
E se eu tremendo, senhora,
Viesse pálido agora
Lembrar-vos o sonho meu,
Com a fronte descorada
E com a voz sufocada
Dizer-vos baixo: — Sou eu!
Sou eu! que não esqueci
A noite que não dormi,
Que não foi uma ilusão!
Sou eu que sinto morrer
A esperança de viver...
Que o sinto no coração!
Riríeis das esperanças,
Das minhas loucas lembranças,
Que me desmaiam assim?
Ou então, de noite, a medo
Choraríeis em segredo
Uma lágrima por mim!
Álvares de Azevedo
Edith Martineau, Portrait of Herbert Foster-Barham, 1876
"É bem doce o pensamento de ter-se um amigo ainda que ausente."
(Álvares de Azevedo)
Álvares de Azevedo
Biografia de Álvares de Azevedo
Álvares de Azevedo (1831-1852) foi um poeta, escritor e contista, da Segunda Geração Romântica brasileira. Suas poesias retratam o seu mundo interior. É conhecido como "o poeta da dúvida". Biografia de Álvares de Azevedo
Faz parte dos poetas que deixaram em segundo plano, os temas nacionalistas e indianistas, usados na Primeira Geração Romântica, e mergulharam fundo em seu mundo interior. É Patrono da cadeira n.º 2, da Academia Brasileira de Letras.
Manuel António Álvares de Azevedo nasceu em São Paulo no dia 12 de setembro de 1831. Era filho do Doutor Inácio Manuel Alvares de Azevedo e Dona Luísa Azevedo. Aos dois anos de idade, junto com sua família, muda-se para o Rio de Janeiro.
Em 1836 morre seu irmão mais novo, facto que o deixou bastante abalado. Foi aluno brilhante, estudou no colégio do professor Stoll, onde era constantemente elogiado. Em 1845 ingressou no Colégio Pedro II.
Em 1848, Álvares de Azevedo voltou para São Paulo e iniciou o curso de Direito na Faculdade do Largo de São Francisco, onde passou a conviver com vários escritores românticos.
Nessa época fundou a revista da Sociedade Ensaio Filosófico Paulistano, traduziu a obra Parisina, de Byron e o quinto ato de Otelo, de Shakespeare, entre outros trabalhos.
Álvares de Azevedo passava o maior tempo às voltas com os livros da faculdade e dedicado a escrever suas poesias. Toda sua obra poética foi escrita durante os quatro anos que cursou a faculdade. O sentimento de solidão e tristeza, refletidos em seus poemas, era de facto a saudade da família, que ficara no Rio de Janeiro.
- Morte
Álvares de Azevedo faleceu no dia 25 de abril de 1852, com apenas 20 anos de idade. Sua poesia Se Eu Morresse Amanhã!, escrita alguns dias antes de sua morte, foi lida, no dia de seu enterro, pelo escritor Joaquim Manuel de Macedo:
Se Eu Morresse Amanhã
Se eu morresse amanhã, viria ao menos
Fechar meus olhos minha triste irmã;
Minha mãe de saudades morreria
Se eu morresse amanhã!
Quanta glória pressinto em meu futuro!
Que aurora de porvir e que amanhã!
Eu perdera chorando essas coroas
Se eu morresse amanhã!
Que sol! que céu azul! que doce n'alva
Acorda a natureza mais louçã!
Não me batera tanto amor no peito
Se eu morresse amanhã!
Mas essa dor da vida que devora
A ânsia de glória, o doloroso afã...
A dor no peito emudecera ao menos
Se eu morresse amanhã!
- O Ultra Romantismo
Seus poemas falam constantemente do tédio da vida, das frustrações amorosas e do sentimento de morte. A figura da mulher aparece em seus versos, ora como um anjo, ora como um ser fatal, mas sempre inacessível.
Álvares de Azevedo deixa transparecer em seus textos, a marca de uma adolescência conflitante e dilacerada, representando a experiência mais dramática do Romantismo brasileiro.
Em alguns poemas, Álvares de Azevedo surpreende o leitor, pois além de poeta triste e sofredor, mostra-se irónico e com um grande senso de humor, que ri da própria poesia romântica. Álvaro de Azevedo não teve nenhuma obra publicada em vida. O livro Lira dos Vinte Anos foi a única obra preparada pelo poeta.
- Livros de Álvares de Azevedo
Lira dos Vinte Anos, poesia (1853)
A Noite na Taverna, prosa (1855)
O Conde Lopo, poesia (1866)
Quand la mort est si belle, Il est doux de mourir.
V. Hugo
Amemos! Quero de amor V. Hugo
Viver no teu coração!
Sofrer e amar essa dor
Que desmaia de paixão!
Na tu'alma, em teus encantos
E na tua palidez
E nos teus ardentes prantos
Suspirar de languidez!
Quero em teus lábio beber
Os teus amores do céu,
Quero em teu seio morrer
No enlevo do seio teu!
Quero viver d'esperança,
Quero tremer e sentir!
Na tua cheirosa trança
Quero sonhar e dormir!
Vem, anjo, minha donzela,
Minha'alma, meu coração!
Que noite, que noite bela!
Como é doce a viração!
E entre os suspiros do vento
Da noite ao mole frescor,
Quero viver um momento,
Morrer contigo de amor!
Álvares de Azevedo
Edith Martineau, Hampstead Heath in December, Watercolour
The watercolourist Edith Martineau (1842–1909) was born in Liverpool on 19 June 1842, one of the eight children of Dr James Martineau (1805–1900), the Unitarian theologian and minister, and his wife, Helen (1804–1877). She was also the niece of the author Harriet Martineau (but was not related to the artist Robert Braithwaite Martineau,
1826-1869). She felt that she owed her love of painting to her mother,
who was herself artistically gifted, and who had encouraged her
children's artistic pursuits from the earliest years, setting them to
illustrate "in play-hours the books that they read in school" (see Huish
150). Later on, Edith had a thorough training: first at the Liverpool
School of Art, then, when the family moved to London, at Leigh's School of Art.
In 1862, still aged only twenty, she became one of the first women to
gain admission to the Royal Academy Schools, and in the early 1880s, she
also took classes at the Slade School (see Huneault, and Weeks 329).
By 1862 she was already exhibiting her work, which she continued to
do regularly and at a variety of exhibitions, from the Royal Society of
Painters in Water Colours and the Royal Academy in London, to
Liverpool's Walker Gallery, the Manchester City Art Gallery,
the Royal Society of Artists in Birmingham, and others elsewhere (see
Huneault). At the Dudley Art Gallery, where she exhibited a number of
works in 1876, she was praised for her "half-length" portraits of her
father and a Mrs J. L. Roget, which, the reviewer felt, were "clever,
painstaking studies, remarkable from freedom of affectation and honest,
good painting" (209). She was elected an associate of the Royal Society
of Painters in Water Colours in 1888, a particular honour for a woman
painter — the Spectator reviewer had said that this was a branch of art "that has seldom been attempted with any success by members of her sex"(209).
In 1904, Marcus Huish writes, "Costume pictures and classical
subjects, by which she first claimed attention, have of late years given
way to pure landscape, and to flowers out of doors and in the fields"
(150). Sadly, she died only a few years later. Her Times obituary compared her watercolours of rural subjects to the work of Helen Allingham,
describing her landscapes as being "graceful transcripts of nature,
perhaps a little idealized," reflecting "in a very complete way her own
tastes and her own kindly and sympathetic nature" (13). — Jacqueline Banerjee
Works:
- Myrrhine
- Hampstead Heath in December
- Portrait of an Arab
- Aurora Leigh
- The Potato Harvest
- Touching the Strings
- Hampstead Heath Looking towards Harrow on the Hill (Daqui)
Edith Martineau, Hampstead Heath Looking Towards Harrow on the Hill, 1905, Watercolour
"A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos."
(George Bernard Shaw)
"A vida é uma pedra de amolar: desgasta-nos ou afia-nos, conforme o metal de que somos feitos."
(George Bernard Shaw)
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