terça-feira, 1 de setembro de 2020

"Domínio do Destino" - Texto de Novalis


Henri Jules Jean Geoffroy, Embarassed Schoolboy, 1908


Domínio do Destino


"O destino que nos oprime é a inércia do nosso espírito. Através do alargamento e formação da nossa atividade transmutamo-nos, nós próprios, em Destino.
Tudo parece fluir para nós vindo do exterior, porque nós não fluímos para o exterior. Somos negativos, apenas, porque o queremos - quanto mais positivos nos tornarmos, mais negativo será o mundo à nossa volta - até que, por fim, já não haverá negação e nós seremos tudo em tudo.
Deus quer deuses.
Se o nosso corpo, em si mesmo, não é senão um centro de ação comum dos nossos sentidos - se nós possuímos o domínio dos nossos sentidos - se os podemos fazer agir à vontade - se os podemos centrar em comunidade, então não depende senão de nós o darmos a nós próprios o corpo que queremos.
Sim, se os nossos sentidos não são senão modificações do órgão pensante - do elemento absoluto - então poderemos, também, pela dominação deste elemento, modificar e dirigir, como nos agradar, os nossos sentidos.''

 Novalis (1772–1801)

 
Novalis, 1799, portrait by Franz Gareis


 De seu verdadeiro nome Friedrich von Hardenberg, o escritor alemão Novalis nasceu em 1772 e morreu ainda jovem, em 1801. Poeta, romancista e teórico do Romantismo, teve nesta tripla qualidade apreciável influência a nível europeu. 

Membro de uma família aristocrática, fez estudos universitários em Iena, Lípsia e Wittenberg. A sua curta vida foi depois ocupada pelo trabalho na administração de minas. Entretanto, travava conhecimento com Friedrich Schiller, os irmãos Schlegel (Friedrich Schlegel encarregar-se-ia de organizar e publicar a sua obra, postumamente) e a filosofia idealista do seu tempo, com destaque para a de Kant e a de Fichte. 

A obra de Novalis encontrava-se praticamente toda inacabada e por publicar na altura da sua morte. De qualquer forma, os seus escritos foram recuperados, encontrando-se entre eles, além de tentativas literárias juvenis de interesse menor, um conjunto muito significativo de textos líricos e narrativos, e mesmo ensaísticos plenos de simbolismo e interesse filosófico. A própria variedade das realizações de Novalis constitui prova de se tratar de uma figura excecional.

Os Hymnen an die Nacht (Hinos à Noite, 1800) constituem uma das grandes expressões do lirismo noturno, melancólico, da literatura ocidental moderna. Exprimem uma temática mística sobrevindo à dor (segundo algumas interpretações, a génese destas poesias pode identificar-se com a morte da amada de Novalis), com a antecipação de uma união sublimada dos amantes num futuro pós-mortal. 

Os célebres fragmentos de Novalis - designadamente os coligidos em Blüthenstaub (Grãos de Pólen) - são tentativas, de grande profundidade filosófica, de compreensão do mundo, de Deus, do lugar do Homem, do absoluto. 

O romance inacabado Heinrich von Ofterdingen (Henrique de Ofterdingen) é a história de um jovem poeta em busca do seu ideal. Por isso, tem sido inúmeras vezes interpretada como a narrativa paradigmática das demandas românticas do século XIX, e o facto de se encontrar inacabada só lhe tem conferido um poder ainda maior de atração. 

Finalmente, o ensaio Die Christenheit oder Europa (A Cristandade ou a Europa), que só conheceria publicação póstuma, foi altamente polémico no seu tempo. Partindo de uma visão idealizada da Idade Média, que para ele constituia uma época de unidade espiritual e de harmonia política e institucional na Europa, o autor perspetiva a restauração apocalíptica dessa mesma ordem num futuro próximo, em linguagem plena de expressão simbólica. Novalis junta-se, assim, ao rol daqueles que, ao longo dos séculos, mantiveram o sonho de uma Europa unida, com a particularidade de, para ele, essa unidade ser mais uma coesão espiritual do que uma realidade política.(Daqui)
Henri Jules Jean Geoffroy, Une leçon de dessin, 1895 


Mensagem a alunos e professores 


"A arte mais importante do professor é a de despertar a alegria pelo trabalho e pelo conhecimento.

«Queridos estudantes!


Regozijo-me por vos ver hoje diante de mim, alegre juventude de um país abençoado.
Lembrai-vos de que as coisas maravilhosas que ireis aprender nas vossas escolas são a obra de muitas gerações, levada a cabo por todos os países do mundo, à custa de muito entusiasmo, muito esforço e muita dor. Tudo é depositado nas vossas mãos, como uma herança, para que a aceitem, honrem, desenvolvam e a transmitam fielmente um dia aos vossos filhos. Assim nós, embora mortais, somos imortais nas obras duradouras que criamos em comum.
Se tiverem esta ideia sempre em mente, encontrarão algum sentido na vida e no trabalho e poderão formar uma opinião justa em relação aos outros povos e aos outros tempos.»"


Albert Einstein (1879-1955), in 'Como Vejo o Mundo',1934


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