segunda-feira, 31 de agosto de 2020

"Homenagem a Raimundo Lulio" - Murilo Mendes


Bruno Liljefors, (Swedish, 1860-1939), Common Swifts, 1886



Homenagem a Raimundo Lúlio

I

A inocência perguntou à crueldade:
Por que me persegues?
A crueldade respondeu-lhe:
– E tu, por que te opões a mim?

II

A aveia do camponês
Queixou-se do cavalo do ditador,
Então o cavalo forte
Queixou-se das esporas do ditador.

III

O pensamento encontrou-se com a eternidade
E perguntou-lhe: de onde vens?
– Se eu soubesse não seria eterna.
– Para onde vais?
– Volto para de onde venho.

Então a monarquia do corpo obumbrou-se ainda mais
E a morte inclinou seu estandarte.


Murilo Mendes 


Francisco Ribalta (1565-1628), Retrato de Raimundo Lúlio,
(c.1232-c.1316), c. 1620, Museu Nacional de Arte da Catalunha


Raimundo Lúlio foi o mais importante escritor, filósofo, poeta, missionário e teólogo da língua catalã. Foi um prolífico autor também em árabe e latim, bem como em langue d'oc (occitano). É beato da Igreja Católica.

Lúlio é uma das figuras mais fascinantes e avançadas dos campos espiritual, teológico e literário da Idade Média.
Foi um leigo próximo aos franciscanos. Talvez tenha pertencido à Ordem Terceira dos Frades Menores. Fez parte da corte de Jaime I em Maiorca, foi amigo do futuro rei Jaime II de Maiorca e, segundo seu relato, levava uma vida libertina de jogral, até que, por volta de 1265, teve visões místicas e fez uma conversão a uma vida de contemplação, iniciando seus estudos em línguas estrangeiras e teologia. Era conhecido em seu tempo pelos apelidos de Arabicus Christianus (árabe cristiano), Doctor Inspiratus (Doutor Inspirado) ou Doctor Illuminatus (Doutor Iluminado), embora não seja um dos 33 Doutores da Igreja Católica. Dedicou-se ao apostolado entre os muçulmanos.

Além de ser o primeiro autor a utilizar uma língua neolatina para expressar conhecimentos filosóficos, científicos e técnicos, destacou-se por uma aguda percepção que o permitiu antecipar muitos conceitos e descobrimentos. Lúlio foi o criador do catalão literário, possuindo um elevado domínio da língua e tendo sido seu primeiro novelista.

Em alguns de seus trabalhos, propôs métodos de escolha que foram redescobertos, séculos mais tarde, por Condorcet (século XVIII). Influiu em Nikolaus von Kues, Giovanni Pico della Mirandola, Francisco Ximenes de Cisneros, Heinrich Kornelius Agrippa von Nettesheim, Giordano Bruno, Gottfried Wilhelm Leibniz, John Dee e Jacques Lefèvre D'Etaples. (Daqui)


Bruno Liljefors

 Bruno Liljefors, Partridge with daisies, 1890



Bruno Liljefors, Fox stalking wild ducks, 1913


Bruno Liljefors, Foxes, 1885



Bruno Liljefors, A Fox Family


Bruno Liljefors, Winter hare, 1908



Bruno Liljefors, Sparrows in a Cherry Tree, 1885


"A poesia não pode nem deve ser um luxo para alguns iniciados: é o pão quotidiano de todos, uma aventura simples e grandiosa do espírito." 


Murilo Mendes, in "O Discípulo de Emaús", aforismo 198
 - Poesia Completa e Prosa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 834.


Murilo Mendes, por Alberto da Veiga Guignard, 1930

Murilo Monteiro Mendes nasceu em 13 de maio de 1901, em Juiz de Fora, Minas Gerais, Brasil e faleceu em 13 de agosto de 1975, em Lisboa, Portugal. Foi um poeta e prosador brasileiro, expoente do surrealismo na literatura brasileira. 

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