Peder Mørk Mønsted, View from the Valley of the Temples in Sicily
with Agrigento in the background, 1885
with Agrigento in the background, 1885
Se todo o ser ao vento abandonamos
Se todo o ser ao vento abandonamos
E sem medo nem dó nos destruímos,
Se morremos em tudo o que sentimos
E podemos cantar, é porque estamos
Nus, em sangue, embalando a própria dor
Em frente às madrugadas do amor.
Quando a manhã brilhar refloriremos
E a alma beberá esse esplendor
Prometido nas formas que perdemos.
Peder Mørk Mønsted, A mother and child by a chapel, Kitzbühel, 1917
Aqui
Aqui, deposta enfim a minha imagem,
Tudo o que é jogo e tudo o que é passagem,
No interior das coisas canto nua.
Aqui livre sou eu — eco da lua
E dos jardins, os gestos recebidos
E o tumulto dos gestos pressentidos,
Aqui sou eu em tudo quanto amei.
Não por aquilo que só atravessei,
Não pelo meu rumor que só perdi,
Não pelos incertos a tos que vivi,
Mas por tudo de quanto ressoei
E em cujo amor de amor me eternizei.
(1947, Lisboa, Edições Ática; 3.ª ed. 1974)
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