Pablo Picasso, Françoise, Claude e Paloma, 1951
Maternidade
Olho-te: és negra.
Olhas-me: sou branca.
Mas sorrimos as duas
na tarde que se adianta.
Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana.
Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,
seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes
E tão perto da morte...
que este sorriso de hoje,
na tarde que se esvai,
é o testemunho exato
do erro das fronteiras raciais.
Dos nossos ventres altos,
os filhos que brotarem
nos chamarão com a mesma palavra.
E ambas estamos certas
– tu, negra e eu, branca –
que é dentro dos nossos ventres
que germina a esperança.
Glória de Sant'Anna,
In Um Denso Azul Silêncio, 1965
Maternidade
Olho-te: és negra.
Olhas-me: sou branca.
Mas sorrimos as duas
na tarde que se adianta.
Tu sabes e eu sei:
o que ergue altivamente o meu vestido
e o que soergue a tua capulana,
é a mesma carga humana.
Quando soar a hora
determinada, crua, dolorosa
de conceder ao mundo o mistério da vida,
seremos tão iguais, tão verdadeiras,
tão míseras, tão fortes
E tão perto da morte...
que este sorriso de hoje,
na tarde que se esvai,
é o testemunho exato
do erro das fronteiras raciais.
Dos nossos ventres altos,
os filhos que brotarem
nos chamarão com a mesma palavra.
E ambas estamos certas
– tu, negra e eu, branca –
que é dentro dos nossos ventres
que germina a esperança.
Glória de Sant'Anna,
In Um Denso Azul Silêncio, 1965
"Das coisas mais difíceis que há na vida é prever o futuro. Quando se tem quarenta anos, e já se pode olhar isto com certa perspetiva, é que se vê como se errou em todas as profecias. Conseguem-se vislumbrar, quando muito, as linhas gerais, os aspetos mais grosseiros das veredas do porvir. Isto, por exemplo: que a humanidade é móvel, oscilante, indo para o mau caminho quando vai no bom, e para o bom quando vai no mau."
Miguel Torga, in "Diário, 1948"
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