William Holman Hunt, Our English Coasts ('Strayed Sheep'), 1852, Óleo sobre tela
Belo Belo
I
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milénios.
E o risco brevíssimo – que foi? passou – de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
– Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
Belo Belo
I
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Tenho o fogo de constelações extintas há milénios.
E o risco brevíssimo – que foi? passou – de tantas estrelas cadentes.
A aurora apaga-se,
E eu guardo as mais puras lágrimas da aurora.
O dia vem, e dia adentro
Continuo a possuir o segredo grande da noite.
Belo belo belo,
Tenho tudo quanto quero.
Não quero o êxtase nem os tormentos.
Não quero o que a terra só dá com trabalho.
As dádivas dos anjos são inaproveitáveis:
Os anjos não compreendem os homens.
Não quero amar,
Não quero ser amado.
Não quero combater,
Não quero ser soldado.
– Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples.
William Holman Hunt, The Scapegoat, 1854, Óleo sobre tela, Lady Lever Art Gallery
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Escrito no Rio de Janeiro, no dia 27 de dezembro de 1947, o poema 'O Bicho' retrata a realidade social do Brasil imerso na miséria durante a década de quarenta. Aparentemente simples, mas afinal desconcertante, o poema denuncia uma ordem social fraturada.
Manuel Bandeira demonstra ter capacidade de transformar uma cena triste e cruel em poesia. Ao olhar para a exclusão experienciada na paisagem de um grande centro urbano, o poeta denuncia o abismo social tão típico da sociedade brasileira. (Daqui)
Manuel Bandeira demonstra ter capacidade de transformar uma cena triste e cruel em poesia. Ao olhar para a exclusão experienciada na paisagem de um grande centro urbano, o poeta denuncia o abismo social tão típico da sociedade brasileira. (Daqui)
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