Momento Lírico
Canta,
virgem de carne fresca e moça,
como a relva dos prados,
onde os novilhos brincam...
Virgem,
canta!
nesta angustiosa tarde
que estendeu o dia não se sabe como
e levou os olhos destes homens fortes
e o fumo branco
dos casais dispersos...
Canta!
e faz rolar das rochas
as canções vibrantes de ribeiros novos...
Canta!
e baloiça, manso, árvores de ferro...
Canta, menina pura,
de carne branca e linda!
E renova tudo...
E envolve tudo na onda de sonho
dum sonho brando e novo
que eu não sei dizer...
Vergílio Ferreira
Edward Burne-Jones, The Beguiling of Merlin, 1874
Só nos pertence o gesto que fizemos
Só nos pertence o gesto que fizemos
não o fazê-lo como, iludida,
a divindade que em nós já trouxemos
supõe errada (e não) por convencida.
Porque o traçado nosso em breve cessa,
para que outro o recomece e não progrida;
que um gesto em ser gesto real se meça,
não está em nós fazê-lo, mas na Vida.
Assim o nada a sagra quando finda
porque o que é, só é o não ainda.
in 'Conta-Corrente 1'
Sem comentários:
Enviar um comentário