A Alma do Vinho
Nas garrafas cantou, uma noite, a alma do vinho:
“Homem, pra ti exalo, ó caro deserdado,
Nesta prisão de lacre vermelho e de vidro,
Um canto cheio de luz e de fraternidade!
“Sobre a colina em fogo, sei quanto é preciso
De esforço, de suor e de sol bem ardente
Pra me engendrar a vida e me criar o espírito;
Porém, não quero ser ingrato ou malevolente,
“Porque imensa alegria sinto ao ir caindo
Na goela de um homem gasto plo trabalho
E o seu peito quente é um sepulcro suave
Que me agrada bem mais do que as adegas frias.
“Não ouves ressoar os refrãos domingueiros
E no meu peito ansioso a esperança a gorjear?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Irás glorificar-me e estarás satisfeito;
“Da tua esposa encantada acenderei os olhos;
Devolverei a força e as cores ao teu filho
E serei pra tão frágil atleta da vida
O óleo que enrijece aos lutadores os músculos.
“Em ti hei de cair, vegetal ambrosia,
Precioso grão que sempre o eterno Semeador
Lança, pra que do nosso amor nasça a poesia
Que brotará pra Deus como uma rara flor!”
Nas garrafas cantou, uma noite, a alma do vinho:
“Homem, pra ti exalo, ó caro deserdado,
Nesta prisão de lacre vermelho e de vidro,
Um canto cheio de luz e de fraternidade!
“Sobre a colina em fogo, sei quanto é preciso
De esforço, de suor e de sol bem ardente
Pra me engendrar a vida e me criar o espírito;
Porém, não quero ser ingrato ou malevolente,
“Porque imensa alegria sinto ao ir caindo
Na goela de um homem gasto plo trabalho
E o seu peito quente é um sepulcro suave
Que me agrada bem mais do que as adegas frias.
“Não ouves ressoar os refrãos domingueiros
E no meu peito ansioso a esperança a gorjear?
Cotovelos na mesa e manga arregaçada,
Irás glorificar-me e estarás satisfeito;
“Da tua esposa encantada acenderei os olhos;
Devolverei a força e as cores ao teu filho
E serei pra tão frágil atleta da vida
O óleo que enrijece aos lutadores os músculos.
“Em ti hei de cair, vegetal ambrosia,
Precioso grão que sempre o eterno Semeador
Lança, pra que do nosso amor nasça a poesia
Que brotará pra Deus como uma rara flor!”
Charles Baudelaire,
in As Flores do Mal, Assírio & Alvim, Lisboa, 1992.
Tradução de Fernando Pinto do Amaral
(Citações)
“Embriaga-te sem cessar! Com vinho, com poesia e com virtude.”
Charles Baudelaire (1821 - 1867)
“Deus apenas fez a água, mas o homem fez o vinho.”
Victor Hugo (1802 - 1885)
“A vida é como o vinho: se a quisermos apreciar bem, não devemos bebê-la até à última gota.”
Lord Byron (1788 - 1824)
“O vinho, quanto mais envelhece mais calor ganha; pelo contrário, a nossa natureza quanto mais vive, mais vai esfriando.”
Félix Lope de Vega (1562 - 1635)
Photo by: Stefan Krause, Germany, Vinho (daqui)
“Os vinhos são como os homens: com o tempo os maus azedam e os bons apuram.”
Cícero (106 a.C - 43 a.C)
“Os vinhos são como os homens: com o tempo os maus azedam e os bons apuram.”
Cícero (106 a.C - 43 a.C)
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