Elin Danielson-Gambogi, Aunt Balda's Pastime, 1886
O Coração
Que jogo jogas, comédia ou lágrima? Cor
suspensa. Prodígio doendo. Enganador
relâmpago. Donde se enreda esta coragem
que chora ao riso e ri à dor? Quatro são
as pedras mestras do teu jogo. Dois cavalos
e os reis. Melancólicos atores. Vazia, a
plateia. O tempo ferido. O peão fugitivo.
A emoção real do presságio. O aceno
cordial do outro lado do jogo. Inscrição
única do pólen, jogada que se arrasta.
Gota de tédio na lonjura das casas.
O fecho do jogo se conclui. Muda o rosto a
visão possível. Cordato, o lance destrói
a memória do que já não vejo ou sei.
Orlando Neves,
O Coração
Que jogo jogas, comédia ou lágrima? Cor
suspensa. Prodígio doendo. Enganador
relâmpago. Donde se enreda esta coragem
que chora ao riso e ri à dor? Quatro são
as pedras mestras do teu jogo. Dois cavalos
e os reis. Melancólicos atores. Vazia, a
plateia. O tempo ferido. O peão fugitivo.
A emoção real do presságio. O aceno
cordial do outro lado do jogo. Inscrição
única do pólen, jogada que se arrasta.
Gota de tédio na lonjura das casas.
O fecho do jogo se conclui. Muda o rosto a
visão possível. Cordato, o lance destrói
a memória do que já não vejo ou sei.
Orlando Neves,
in "Decomposição - o Corpo"
Elin Danielson-Gambogi, The Piano Player, 1907
O Coração - II
A solidão é perfeita como um rasgo entre
as nuvens, ao último sonho. A solidão
que se cala em teu fundo e vai envelhecendo
na terra perdida do som descompassado.
Te guardas na intimidade dos armários,
onde a paz é negra e se desagrega a luz.
Nunca foste mais do que uma ficção, matriz
de riso e sombra, um poço verde, teorema
de ilusões, engrenagem de poentes roxos.
E, agora, frouxo, já nada designas ou
desenhas. És, apenas, testemunha efémera
e longínqua, trovão engolido de Deus,
fingidor ferido de doces cantos, mentira
precária nas cordas de uma harpa febril.
Orlando Neves,
O Coração - II
A solidão é perfeita como um rasgo entre
as nuvens, ao último sonho. A solidão
que se cala em teu fundo e vai envelhecendo
na terra perdida do som descompassado.
Te guardas na intimidade dos armários,
onde a paz é negra e se desagrega a luz.
Nunca foste mais do que uma ficção, matriz
de riso e sombra, um poço verde, teorema
de ilusões, engrenagem de poentes roxos.
E, agora, frouxo, já nada designas ou
desenhas. És, apenas, testemunha efémera
e longínqua, trovão engolido de Deus,
fingidor ferido de doces cantos, mentira
precária nas cordas de uma harpa febril.
Orlando Neves,
in "Decomposição - o Corpo"
Elin Danielson-Gambogi, Self-Portrait, c. 1900
"Um bom retrato é uma biografia pintada."
(Anatole France)
Anatole France early in his career,
portrayed by Wilhelm Benque
"Um bom retrato é uma biografia pintada."
(Anatole France)
Anatole France early in his career,
portrayed by Wilhelm Benque
Anatole France, escritor francês, pseudónimo de Jacques Anatole François Thibault, nascido em 1844, em Paris, e falecido a 12 de outubro de 1924, em Tours, foi laureado com o Prémio Nobel em 1921.
Foi durante catorze anos bibliotecário assistente no Senado Francês. Em 1896 foi eleito membro da Academia Francesa. Publicou a sua primeira coletânea de poemas, Les Poémes Dorés, em 1873.
Le Crime de Silvestre Bonnard foi a sua primeira novela publicada. É autor dos romances históricos Thaïs (1891) e Les dieux ont soif (Os Deuses têm Sede, 1912).
Em Histoire contemporaine (História Contemporânea, 1897-1901) satiriza a mediocridade e a intolerância de uma certa sociedade francesa. (Daqui)
Foi durante catorze anos bibliotecário assistente no Senado Francês. Em 1896 foi eleito membro da Academia Francesa. Publicou a sua primeira coletânea de poemas, Les Poémes Dorés, em 1873.
Le Crime de Silvestre Bonnard foi a sua primeira novela publicada. É autor dos romances históricos Thaïs (1891) e Les dieux ont soif (Os Deuses têm Sede, 1912).
Em Histoire contemporaine (História Contemporânea, 1897-1901) satiriza a mediocridade e a intolerância de uma certa sociedade francesa. (Daqui)
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