Meu país desgraçado
Meu país desgraçado!…
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas…
Meu país desgraçado!…
Porque fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!
Meu país desgraçado!…
E no entanto há Sol a cada canto
e não há Mar tão lindo noutro lado.
Nem há Céu mais alegre do que o nosso,
nem pássaros, nem águas…
Meu país desgraçado!…
Porque fatal engano?
Que malévolos crimes
teus direitos de berço violaram?
Meu Povo
de cabeça pendida, mãos caídas,
de olhos sem fé
— busca, dentro de ti, fora de ti, aonde
a causa da miséria se te esconde.
E em nome dos direitos
que te deram a terra, o Sol, o Mar,
fere-a sem dó
com o lume do teu antigo olhar.
Alevanta-te, Povo!
Ah!, visses tu, nos olhos das mulheres,
a calada censura
que te reclama filhos mais robustos!
Povo anémico e triste,
meu Pedro Sem sem forças, sem haveres!
— olha a censura muda das mulheres!
Vai-te de novo ao Mar!
Reganha tuas barcas, tuas forças
e o direito de amar e fecundar
as que só por Amor te não desprezam!
(Livro publicado em 1947)
José Viana, Autorretrato, Óleo s/ tela, 29x23 cm
Ator e pintor português, José Maria Viana Dionísio nasceu a 6 de dezembro de 1922, em Lisboa, e faleceu na madrugada do dia 8 de janeiro de 2003, vítima de um acidente de viação.
A sua infância foi marcada pela ausência do pai, que se encontrava em África, e pelo convívio com a avó, católica, salazarista e monárquica. A mãe queria ser atriz, carreira que não prosseguiu por oposição da sua família.
Em 1942, com 19 anos e sem curso ou emprego fixo, José Viana começou a fazer ilustrações para jornais e revistas, iniciando, simultaneamente, uma atividade relacionada com a publicidade.
Pouco tempo depois foi trabalhar para a Bertrand & Irmãos, onde foi retocador de fotólitos. A seguir teve a oportunidade de fazer publicidade cinematográfica na companhia Sonoro Filme.
Enquanto mantinha este emprego, José Viana dedicava-se à pintura, que praticava no Círculo Artístico e Literário Mário Augusto. Ali conviveu com artistas como Américo Taborda, Mário Costa e Colaço.
Por intermédio de um amigo, uma das aguarelas pintadas por Viana chegou ao Parque Mayer, tendo sido oferecida a João Villaret. Este último quis conhecer o autor da pintura e, pouco tempo depois, José Viana começou a trabalhar como maquetista no Parque.
O teatro de revista despertou o seu interesse. Em 1945, foi convidado para ser cenógrafo no Grupo Dramático da Sociedade de Instrução Guilherme Cossoul. Fez de "Berzebu" no Auto da Lusitânia de Gil Vicente, a primeira personagem que encarnou enquanto ator amador. Nessa coletividade representou e encenou O Auto do Curandeiro de António Aleixo e Pedido de Casamento de Tchekov.
O anonimato de José Viana ficou para trás quando fez parte do elenco de Um Chapéu de Palha de Itália (1949), peça posta em cena no Teatro Apolo. Ao lado de Armando Cortez, Canto e Castro e Carlos Duarte, Viana iniciou-se como ator profissional com o nome artístico José Dionísio. Depois daquela peça, como a crítica não lhe foi favorável, o ator não teve trabalho durante dois anos, que aproveitou para aperfeiçoar as suas técnicas de representação.
José Dionísio voltou à cena na revista Lisboa é Coisa Boa (1951) de Ricardo Covões. Conheceu o sucesso e mudou o seu nome artístico de Dionísio para Viana. Em 1952 a crítica já considerava José Viana um ator de mérito. Dois anos volvidos integrou a companhia de teatro de Giuseppe Bastos, onde iniciou uma tournée por S. Tomé e Príncipe, Angola e Moçambique. Como consequência, em 1955, Viana decidiu interromper a sua carreira de ator para se estabelecer em Angola e ganhar a vida como pintor.
Quando regressou a Portugal teve uma oportunidade de trabalho na RTP, onde apresentou o programa infantil Riscos e Gatafunhos (1958). Em 1958 regressou à revista com Vinho Novo, apresentada no Teatro ABC. Um ano depois assinou a sua primeira realização, Mulheres à Vista, seguida de Elas são o Espetáculo, em 1963. Entre 1967 e 1973, José Viana interpretou, encenou e assinou peças como O Prato do Dia, Cala-te Boca, Simplesmente Revista e Ó Pá, Pega na Vassoura (o seu último trabalho no Parque Mayer).
Depois disso teve um programa na RTP2 (ABCena) e trabalhou no Teatro Laura Alves. Com Viva a Revista percorreu o interior do país. Em 1987 regressou ao Parque Mayer, apresentando Festa no Parque no Teatro de Variedades.
Para além do teatro, José Viana conta com participações nos filmes O Cerco dos Enforcados (1953), Perdeu-se um Marido (1956), O Recado (1971), Cartas de Amor de Uma Freira Portuguesa (1976), A Fuga (1977), A Noite e a Madrugada (1983) e Máscara de Aço Contra Abismo Azul (1987-88).
Na década de 90 entrou nas produções nacionais A Ilha (1990), Entre Mortos e Vivos (1992), O Fim do Mundo (1992), Viuvez Secreta (1992), Morte Macaca (1997) e O Relojoeiro (1998).
Depois de se retirar como ator, José Viana dedicou-se à pintura, tendo como temáticas preferidas a mulher e o teatro. Como pintor não se identificava com nenhum movimento estético. (Daqui)
"Vou fazer-te uma confidência, talvez tenha já começado a envelhecer e o desejo, esse cão, ladra-me agora menos à porta. Nunca precisei de frequentar curandeiros da alma para saber como são vastos os campos do delírio. Agora vou sentar-me no jardim, estou cansado, Setembro foi mês de venenosas claridades, mas esta noite, para minha alegria, a terra vai arder comigo. Até ao fim.
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