Soneto
Porque descrês, mulher, do amor, da vida?
Porque esse Hermon transformas em Calvário?
Porque deixas que, aos poucos, do sudário
Te aperte o seio a dobra humedecida?
Que visão te fugiu, que assim perdida
Buscas em vão neste ermo solitário?
Que signo obscuro de cruel fadário
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?
Nenhum! Intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura:
Bênçãos te manda o céu em cada hora.
E descrês do viver? ... E eu, pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei de eu crer agora?
Antero de Quental, in 'Sonetos'
Porque esse Hermon transformas em Calvário?
Porque deixas que, aos poucos, do sudário
Te aperte o seio a dobra humedecida?
Que visão te fugiu, que assim perdida
Buscas em vão neste ermo solitário?
Que signo obscuro de cruel fadário
Te faz trazer a fronte ao chão pendida?
Nenhum! Intacto o bem em ti assiste:
Deus, em penhor, te deu a formosura:
Bênçãos te manda o céu em cada hora.
E descrês do viver? ... E eu, pobre e triste,
Que só no teu olhar leio a ventura,
Se tu descrês, em que hei de eu crer agora?
Antero de Quental, in 'Sonetos'
Sem comentários:
Enviar um comentário