quinta-feira, 13 de novembro de 2025

"Cavalo à solta" - Poema de Ary dos Santos



Max Kurzweil
(Austrian painter and printmaker, 1867–1916), A Dear Visitor, 1894.
 

Cavalo à solta 

 
Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve
breve instante da loucura.

Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.

Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.

Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
 
Minha laranja amarga e doce
minha espada,
poema feito de dois gumes
tudo ou nada.
Por ti renego, por ti aceito
este corcel que não sossego
à desfilada no meu peito.

Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.

Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.


Ary dos Santos, in "As Palavras das Cantigas"


"Cavalo à Solta"
Voz de Fernando Tordo
  
 
Cavalo à Solta  é uma música da autoria de José Carlos Ary dos Santos e de Fernando Tordo, interpretada, originalmente, por este último, no Festival RTP da Canção 1971, tendo ficado em 3º lugar, com 42 pontos. No entanto, mantém-se como uma das músicas mais marcantes da música portuguesa. (daqui)
 

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