Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.
in ‘O Nome das Coisas’
Maria Helena Vieira da Silva
Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa, 13 de junho de 1908 — Paris, 6 de março de 1992) foi uma pintora portuguesa, naturalizada francesa em 1956.
Filha do embaixador Marcos Vieira da Silva, ficou órfã de pai aos três anos, tendo sido educada pela mãe em casa do avô materno (diretor do jornal O Século), em Lisboa.
Despertou cedo para a pintura. Aos onze anos ingressou na Academia de Belas-Artes, em Lisboa, onde estudou desenho e pintura com Emília Santos Braga e Armando Lucena. Motivada também pela escultura, frequentou as aulas de Anatomia Artística da Escola de Belas Artes de Lisboa.
Em 1928 vai viver para Paris, acompanhada pela Mãe, indo visitar a Itália. No regresso começa a frequentar as aulas de escultura de Bourdelle, na Academia La Grande Chaumière. Mas abandona definitivamente a escultura, depois de frequentar as aulas de Despiau.
Começou então a estudar pintura com Fernand Léger e trabalhou com Henri de Waroquier (1881-1970), Friez, e Charles Dufresne.
Em Paris conheceu seu futuro marido, o também pintor Árpád Szenes, húngaro, com quem se casou em 1930, e com quem visitará a Hungria e a Transilvânia.
Vieira da Silva - "Autorretrato", 1931
Em 1935, António Pedro organiza a primeira exposição da pintora em Portugal, e que a faz estar neste país por um breve período, até Outubro de 1936, após o qual voltará para Paris, onde participará ativamente na associação «Amis du Monde», criada por vários artistas parisienses devido ao desenvolvimento da extrema direita na Europa.
Vieira da Silva - "As Bandeiras Vermelhas", 1939
Vieira da Silva regressará em 1939, devido à guerra, já que para o seu marido, judeu húngaro, a proximidade dos nazis o incomoda, naturalmente. Ficará em Portugal por pouco tempo, pois o governo de Salazar não lhe restitui a cidadania portuguesa, mesmo tendo casado pela igreja. Não deixa de participar num concurso de montras, realizado no âmbito da Exposição do Mundo Português, que também lhe encomendou um quadro, mas cuja encomenda será retirada.
Realizou inúmeras viagens à América Latina para participar de exposições, como em 1946 no Instituto de Arquitetos do Brasil (IAB).
Devido ao facto de seu marido ser judeu e de ela ter perdido a nacionalidade portuguesa, eram oficialmente apátridas. Então, o casal decidiu residir por um longo tempo no Brasil, durante a Segunda Guerra Mundial e no período pós-guerra. No Brasil, entraram em contacto com importantes artistas locais, como Carlos Scliar e Djanira. Ambos exerceram grande influência na arte brasileira, especialmente entre os modernistas.
Vieira da Silva foi autora de uma série de ilustrações para crianças que constituem uma surpresa no conjunto da sua obra. Kô et Kô, les deux esquimaux, é o título de uma história para crianças inventada por ela em 1933. Não se sentindo capaz de a escrever, a pintora entregou essa tarefa ao seu amigo Pierre Guéguen e assumiu o papel de ilustradora, executando uma série de guaches.
Residiram no Rio de Janeiro até 1947, pintando, expondo e ensinando, regressando Vieira da Silva primeiro que o marido, retido pelos seus compromissos académicos.
Vieira da Silva - "Les petites terrasses", 1948
Vieira da Silva - "La bibliothèque", 1949
A artista viveu e trabalhou em Paris, no número 34 da rua de l'Abbé Carton, no XIV bairro da cidade. É a época em que Vieira da Silva começa a ser reconhecida. A partir de 1948 o estado francês começa a adquirir as suas pinturas e compra-lhe La Partie d'échecs, um dos seus quadros mais famosos. Vende obras suas para vários museus, realiza tapeçarias e vitrais, trabalha em gravura, faz ilustrações para livros, cenários para peças de teatro.
Vieira da Silva - "L'Allée Urichante", 1955
Em 1956 tanto ela como o marido obtêm a nacionalidade francesa. Em 1960 o Governo Francês atribui-lhe uma primeira condecoração. Expõe em todo o mundo e ganha o Grande Prémio da Bienal de São Paulo de
1962. Em 1966 é a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts e em 1979 torna-se cavaleira da Legião de Honra francesa.
Participou na Europália, em 1992, e veio a morrer nesse ano.
Para honrar a memória do casal de pintores, foi fundada em Portugal a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa e Escola Vieira Da Silva em Carnaxide.
Participou na Europália, em 1992, e veio a morrer nesse ano.
Para honrar a memória do casal de pintores, foi fundada em Portugal a Fundação Arpad Szenes-Vieira da Silva, sediada em Lisboa e Escola Vieira Da Silva em Carnaxide.
Fontes:
José Augusto França
A Arte em Portugal no Século XX,
Lisboa, Bertrand, 1974
José Augusto França
(José Augusto Rodrigues França (Tomar, 16 de Novembro de 1922), é um historiador e crítico de arte português. É considerado o maior nome da historiografia da Arte em Portugal.)
Vieira da Silva, “História Trágico-Marítima” ou “O Naufrágio”, 1944
Vieira da Silva, "O Passeante Invisível", 1949-1951
Vieira da Silva - "O Quarto Cinzento", 1950
Vieira da Silva - L’Oranger, 1954
"Às vezes, pelo caminho da arte, experimento súbitas, mas fugazes iluminações e então sinto por momentos uma confiança total, que está além da razão. Algumas pessoas entendidas que estudaram essas questões dizem-me que a mística explica tudo. Então é preciso dizer que não sou suficientemente mística. E continuo a acreditar que só a morte me dará a explicação que não consigo encontrar."
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