Wilfrid Gabriel de Glehn (Impressionist British painter, 1870–1951), Tourrettes, 1923
O Amor tudo mata quando morre
Eu morro dia a dia, sabendo-o, sentindo-o,
com a morte do amor em mim.
Esvaiu-se, ensandeceu, partiu,
espécie de sol sepultado por mãos ímpias,
numa cratera de lua, algures,
ou na tristeza de um retrato emudecido
pela ausência de vozes em redor.
Sem ele, a casa ficou deserta
de risos, acenos e afetos, de tudo,
as mãos ficaram ásperas, secas,
a pele do rosto gretada, fria,
e o sangue tornou-se lento e espesso,
incapaz de dar vida às pequenas folhas
orvalhadas da imaginação das noites.
A erva cresce em redor de mim,
os limões ficaram ressequidos sobre
a toalha bordada, num canto da mesa.
O amor tudo mata quando morre,
detendo no seu movimento elementar,
a máquina que ilumina o coração do dia.
José Jorge Letria, in "Quem com Ferro Ama"
Galeria de Wilfrid Gabriel de Glehn
Wilfrid Gabriel de Glehn, The Avon, Wiltshire
Wilfrid Gabriel de Glehn, The Avon, Wiltshire
Wilfrid Gabriel de Glehn, The Mouth of the Helford River
Wilfrid Gabriel de Glehn, Snow at Stratford Tony
Wilfrid Gabriel de Glehn, Ebble - The Trout Stream at Stratford Tony
Wilfrid Gabriel de Glehn, Misty Day - Ground swell on the Cornish Coast
Wilfrid Gabriel de Glehn, Vallée de Roquefavour, near Marseilles
Wilfrid Gabriel de Glehn, Stratford Tony, Wiltshire
Wilfrid Gabriel de Glehn, Saint-Paul, Vallée du Var, Provence, 1936
O que se sente não se consegue dizer
"O que habitualmente se sofre (se sente) não se pode contar. Não é só porque isso é normalmente ridículo (porque a grande maior parte do que se pensa e sente é ridículo) e só o que é grande é que cai bem e vale portanto a pena dizer-se. É que o dizer-se altera o que se diz. O sentir é irredutível ao dizer. Só o estar sofrendo diz o sofrer. Na palavra ninguém o reconhece ou reconhece-o de outra maneira, essa maneira em que já o não reconhece o que o conta. Mas dizia eu que a generalidade do que se pensa, sente, é ridícula. São raros os momentos de «elevação». A quase totalidade do tempo passamo-la distraídos, alheados em ideias sem interesse, nascidas de coisas sem interesse, as coisas que vai havendo à nossa volta ou no nosso divagar imaginativo ou que nem sequer chega a haver porque há só a abstração total no quedarmo-nos pregados às coisas que nem vemos nem nos despertam ideia alguma e estão ali apenas como ponto de fixação do nosso absoluto vazio interior."
Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'
Vergílio António Ferreira
Portugal
1916 // 1996
Escritor/Ensaísta/Professor
Portugal
1916 // 1996
Escritor/Ensaísta/Professor
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