domingo, 21 de setembro de 2014

"Saudade" - Poema de António Franco Alexandre


James Jebusa Shannon, White Lilies


Saudade 


Tal como és, assim te quero, e sempre
diverso cada dia do que foste;
cada imperfeito gesto que inventares
me fará desejar-te em outro verso.

Da arte do soneto feito mestre
no concurso sem regra da floresta,
na mais pequena folha te descubro
e no caule do vento é que te perco.

Da turva luz já retirei o emblema
que me sirva de rosto permanente
e venha o cabeçalho do poema;

e pedirei à noite que me empreste
um farrapo do manto incandescente
de que se veste, agora, para ter-te.


António Franco Alexandre

[António Franco Alexandre (Viseu, 1944) é um matemático, filósofo e poeta português.]


James Jabusa Shannon, Springtime, 1896


"O amor é de todas as paixões a mais forte, pois ataca simultaneamente
 a cabeça, o coração e os sentidos."

(Voltaire)


James Jabusa Shannon, Reverie 


"Quem ama extremamente, deixa de viver em si e vive no que ama." 



Self-portrait of James Jebusa Shannon (American Painter, 1862-1923)


2 comentários:

ENTRE-LINHAS disse...

Olá!

Queria perguntar se este poema é mesmo de António Franco Alexandre? Não consigo encontrar em que livro o mesmo se encontra... Se souber dizer-me a obra!

Obrigada!

quadrogiz disse...

Olá! Boa Noite!

O Poema em questão faz parte do livro "Duende" (Assírio & Alvim, 2002).

Obrigada pela visita ao blog.