Este é o verdadeiro amor de que tanto se fala
"Estranho e inexplicável sentimento este! Que quando sinto transbordar-me do coração toda esta imensa ventura, acomete-me então um terror grande - parece-me que é impossível ser tão feliz - que o Mundo não comporta esta ventura celeste, e que chegado ao ápice de todas as felicidades já será forçoso declinar. (...) Sucede-te isto também a ti, esposa querida do meu coração? Conheces tu também este tormento, anjo divino?
Ai, Rosa, minha doce Rosa, este que nós sentimos, este é o verdadeiro amor de que tanto se fala, e tão pouco se sabe o que é. São regiões pouco conhecidas em que a cada passo se encontram belezas nunca sonhadas, terrores inexplicáveis, felicidades sem par e tristezas que não têm nome.
(...) Oh! Como se riria de mim quem lesse esta carta, Rosa! - De mim que eles julgam um incrédulo, um céptico, e cujas palavras sarcásticas no Mundo não significam senão a mais perfeita indiferença por tudo! Há dois homens em mim, vida desta alma; um é o que vêem todos, o que fez a experiência, a sociedade e o conhecimento de suas misérias e nulidades - o outro é o que tu fizeste, é a criação do teu amor, a tua obra, e este vale muito decerto, porque é feito à tua imagem."
Almeida Garrett, in 'Carta a Rosa Barreiras'
Sem comentários:
Enviar um comentário