segunda-feira, 24 de outubro de 2011

"Cai a chuva abandonada" - Poema de Vergílio Ferreira


Jeff Rowland, We Have All The Time In The World, 2011



Cai a chuva abandonada


Cai a chuva abandonada 
à minha melancolia, 
a melancolia do nada 
que é tudo o que em nós se cria. 

Memória estranha de outrora 
não a sei e está presente. 
Em mim por si se demora 
e nada em mim a consente 

do que me fala à razão. 
Mas a razão é limite 
do que tem ocasião 

de negar o que me fite 
de onde é a minha mansão 
que é mansão no sem-limite. 
Ao longe e ao alto é que estou 
e só daí é que sou. 


Vergílio Ferreira, 
in 'Conta-Corrente 1'




Vergílio António Ferreira (1916-1996) nasceu em Melo, Serra da Estrela, e faleceu em Lisboa. Frequentou o Seminário do Fundão (1926-1932) e licenciou-se em Filologia Clássica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra (1940).
 
A par do trabalho de escrita, foi professor de Português e de Latim em várias escolas do país. 
Inicialmente neo-realista, depressa Vergílio Ferreira se deixou influenciar pelos existencialistas franceses (André Malraux e Jean-Paul Sartre), iniciando um caminho próprio a partir do romance Mudança (1949). 
 
É considerado um dos mais importantes romancistas portugueses do século XX, tendo ganho vários prémios, entre eles o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (ganho duas vezes, primeiro com o romance Até ao Fim e depois com o romance Na tua Face), e o Prémio Femina na França com o romance Manhã Submersa.
 
A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção (romance, conto), ensaio e diário, costuma ser agrupada em dois períodos literários: o Neo-realismo e o Existencialismo. Considera-se que Mudança é a obra que marca a transição entre os dois períodos.


Rodrigo Leão - Vida Tão Estranha 

 


"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome." - Mahatma Gandhi 
 

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