domingo, 30 de outubro de 2011

"Envelhecer" - Poema de Wilson Frade


Émile Bernard (1868-1941), Avó, 1887, Óleo sobre tela


Envelhecer


Embora todos os pretensos à velhice
se agarrem ao espírito,
o tédio chega e vai ficando.

As nossas mãos já não escrevem com o mesmo brilho
e já não enfrentamos a vida com o mesmo espanto no olhar.

O verde já não é tão verde
e não nos atiramos no mar com a mesma gulodice.

Amamos com maior cautela,
menos febrilmente, mas, bem mais ordenadamente.

Buscamos o sabor do beijo com a febre de que ele possa acabar,
mas sentimos um frio no corpo se pensamos que tudo isso
possa terminar.

Os fios de cabelos brancos já não nos castigam
porque descobrimos mais a lua e as estrelas,
e curtimos aquele chinelo velho
em extremo desuso.

Prestamos mais atenção aos passarinhos
e no riacho que corre,
e tornamo-nos mais íntimos da morte.

Fingimos que ela é nossa amante
para que não nos leve assim tão de repente
e não nos tire os raros momentos em que nos tornamos jovens.


Wilson Frade,
Poemas de um livro só, Rio de Janeiro, Nova Fronteira: 1991

[Wilson Frade (1920-2000) foi um jornalista, pintor, poeta, instrumentista e compositor mineiro.]


Leonard Cohen - Dance Me to the End Of Love


"A alegria mantém uma espécie de luz solar brilhando na mente e a invade com uma serenidade perene e firme."

(Josefh Addison)

[Joseph Addison (Inglaterra, 1672 - 1719) foi um poeta e ensaísta inglês.]


Sem comentários: