sábado, 1 de outubro de 2011

"Alma minha gentil, que te partiste" - Soneto de Luís de Camões


Carlos Alberto Santos, Duas caravelas ao luar, 1990



Alma Minha Gentil, que te Partiste


Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.

Se lá no assento etéreo, onde subiste,
Memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.

E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,

Roga a Deus, que teus anos encurtou,
Que tão cedo de cá me leve a ver-te,
Quão cedo de meus olhos te levou.


Rimas (1595), Soneto XIII.




O poema foi escrito pelo português Luís de Camões a respeito de sua falecida amada Dinamene, e onde o amor platónico, com características petrarquianas, se revela num dos seus expoentes máximos.
A desventura do poeta, condenado a viver triste, eternamente, é também um dos tema recorrentes em Camões.
O seu primeiro verso é, por vezes, referido como um cacófato (a junção de "alma" com "minha" soa como "maminha").

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