terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

"O corvo e a raposa" - Poema de Manuel Maria Barbosa du Bocage


Flattering the Crow by Heather Rinehart
(O Corvo e a Raposa)



O corvo e a raposa 


É fama que estava o corvo 
Sobre uma árvore pousado 
E que no sôfrego bico 
Tinha um queijo atravessado. 

Pelo faro, àquele sítio 
Veio a raposa matreira, 
A qual, pouco mais ou menos, 
Lhe falou desta maneira: 

- Bons dias, meu lindo corvo; 
És glória desta espessura; 
És outra fénix, se acaso 
Tens a voz como a figura. 

A tais palavras, o corvo, 
Com louca, estranha afouteza, 
Por mostrar que é bom solista 
Abre o bico e solta a presa. 

Lança-lhe a mestra o gadanho 
E diz: - Meu amigo, aprende 
Como vive o lisonjeiro 
À custa de quem o atende. 

Esta lição vale um queijo; 
Tem destas para teu uso. 
Rosna então consigo o corvo 
Envergonhado e confuso: 

- Velhaca, deixou-me em branco; 
Fui tolo em fiar-me dela; 
Mas este logro me livra 
De cair noutra esparrela. 


 


Kathy Fincher (A painter of Children)


"Uma criança... Sempre pode ensinar três coisas a um adulto: A ficar contente sem motivo! A estar sempre ocupada com alguma coisa e a saber exigir com toda força, aquilo que deseja!"



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