terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

"Os Sapos" e "O Sapo" - Poemas de Manuel Bandeira e Ferreira Gullar



 (Anfíbio

[Os anfíbios, que significa «ambas vidas» ou «em ambos meios») constituem uma classe de animais vertebrados, pecilotérmicos que não possuem bolsa amniótica agrupados na classe Amphibia. A característica mais marcante dos seres vivos da classe é o seu ciclo de vida dividido em duas fases: uma aquática e outra terrestre, apesar de haver exceções. Estão identificadas cerca de seis mil espécies vivas de anfíbios cadastradas no Amphibian Species of the World.]


Os Sapos


Enfunando os papos,
Saem da penumbra,
Aos pulos, os sapos.
A luz os deslumbra. 

Em ronco que aterra,
Berra o sapo-boi:
- "Meu pai foi à guerra!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" 

O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado. 

Vede como primo
Em comer os hiatos!
Que arte! E nunca rimo
Os termos cognatos. 

O meu verso é bom
Frumento sem joio.
Faço rimas com
Consoantes de apoio. 

Vai por cinquenta anos
Que lhes dei a norma:
Reduzi sem danos
A formas a forma. 

Clame a saparia
Em críticas céticas:
Não há mais poesia,
Mas há artes poéticas..." 

Urra o sapo-boi:
- "Meu pai foi rei" - "Foi!"
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não foi!" 

Brada em um assomo
O sapo-tanoeiro:
- "A grande arte é como
Lavor de joalheiro. 

Ou bem de estatuário.
Tudo quanto é belo,
Tudo quando é vário,
Canta no martelo." 

Outros, sapos-pipas
(Um mal em si cabe),
Falam pelas tripas:
- "Sei!" - "Não sabe!" - "Sabe!" 

Longe dessa grita,
Lá onde mais densa
A noite infinita
Verte a sombra imensa; 

Lá, fugido ao mundo,
Sem glória, sem fé,
No porão profundo
E solitário, é 

Que soluças tu,
Transido de frio,
Sapo-cururu
Da beira do rio...


Manuel Bandeira

[Manuel Carneiro de Sousa Bandeira Filho (Recife, 19 de abril de 1886 — Rio de Janeiro, 13 de outubro de 1968) foi um poeta, crítico literário e de arte, professor de literatura e tradutor brasileiro.
 
Manuel Bandeira publica em 1919 o seu segundo livro de poemas intitulado Carnaval. Nessa obra já faz uso do verso livre. Por isso, os modernistas viram em Manuel Bandeira um precursor do movimento Modernista. Em Carnaval temos ainda o início da libertação das formas fixas e a opção pela liberdade formal, que se tornaria uma das marcas registadas de sua poesia.
 
Considera-se que Bandeira faça parte da geração de 22 da literatura moderna brasileira, sendo seu poema Os Sapos o abre-alas da Semana de Arte Moderna de 1922. Juntamente com escritores como João Cabral de Melo Neto, Paulo Freire, Gilberto Freyre, Nélson Rodrigues, Carlos Pena Filho e Osman Lins, entre outros, representa a produção literária do estado de Pernambuco.]


  (Anfíbio)


O Sapo

 
Aqui estou eu: o Sapo, 
Bom de pulo e bom de papo. 
Falo mais que João do Pulo, 
Pulo mais que João do Papo. 
Por cautela, falo pouco, 
Pra evitar de ficar rouco. 
Mas, na verdade, coaxo. 
Sou quem toca o contra-baixo 
em nossa orquestra de sapos, 
pois com os sons de nossos papos 
fazemos nosso concerto: 
um som fechado, outro aberto, 
um que parece trombone, 
outro flauta ou xilofone. 
Tocamos em qualquer festa.


Ferreira Gullar

[Ferreira Gullar (1930-2016), pseudónimo de José de Ribamar Ferreira, foi um poeta, crítico de arte e ensaísta brasileiro. Abriu caminho para a "Poesia Concreta" com o livro "A Luta Corporal". Organizou e liderou o movimento literário "Neoconcreto". Recebeu o Prémio Camões, em 2010. Em 2014, foi eleito para a Academia Brasileira de Letras.]


 (Anfíbio
 

"Digamos que existem dois tipos de mentes poéticas: uma apta a inventar fábulas e outra disposta a crer nelas."

(Galileu Galilei)
 
 
Sapo-comum (Bufo bufo) (daqui)
 
  • Características distintivas: maior anuro da fauna portuguesa; íris avermelhada; glândulas parótidas muitos evidentes, dispostas de forma oblíqua.
  • Dimensões Adultas: 6-15 cm; máx. 22 cm
  • Dimorfismo sexual: Pouco acentuado
  • Alimentação em fase adulta: Carnívoro, Insectívoro
  • Local de postura: Habitat lêntico
  • Modo de postura: Ovos em Cordões
  • Período de actividade: Nocturno (daqui)

Sapo-comum (Bufo bufo) (daqui) 
 

- Sapo -
 
 
Animal do filo dos cordados, da classe dos Anfíbios, da ordem dos anuros, da família dos Bufonídeos, que se distribui por cerca de trezentas espécies. 
 
Os sapos são anfíbios anuros com a pele muito verrugosa. Os olhos possuem pupila horizontal, e são amarelos ou vermelho alaranjados. O corpo é largo e a cabeça estreita com duas glândulas mais desenvolvidas atrás dos olhos, as paratóides. Os dedos dos pés estão ligados por uma membrana interdigital, pelo menos, até metade do seu comprimento. Os machos possuem sacos vocais externos. A pele verrugosa dos sapos é rica em glândulas que elaboram um veneno leitoso, por vezes, muito tóxico. 
 
O sapo-comum (Bufo bufo) é essencialmente terrestre, mas preferindo sempre lugares húmidos. Durante o dia abriga-se sobre as pedras ou em buracos, próximo dos cursos de água. Alimenta-se de vermes, insetos, moluscos e também pequenos mamíferos, que são capturados pela língua ao amanhecer ou ao crepúsculo. Esta dieta é útil para os jardineiros por comer vários tipos de animais que prejudicam as plantas. Os bufonídeos estão distribuídos por todas as regiões da Terra, com exceção da Austrália, Nova-Guiné e Madagáscar. O sapo-comum (Bufo bufo) está distribuído mais ou menos uniformemente por todo o território português.

A reprodução dos sapos ocorre geralmente no fim do inverno ou no início da primavera, geralmente um cursos de água pouco profundos ou em charcos. Cada macho cruza-se geralmente com várias fêmeas, agarrando-as pelas axilas. Cada fêmea pode pôr de dois mil a sete mil ovos, em dois longos cordões. Os ovos são muito pequenos e são completamente negros. O emparelhamento do macho e da fêmea pode demorar de oito a quinze dias. Os ovos eclodem entre os doze e os dezoito dias depois da postura. Este período é dependente da temperatura da água. 
 
Os sapos são, em geral, solitários e noturnos na vida adulta. Hibernam no inverno na vasa ou em terreno seco. Um sapo adulto macho mede de sete a doze centímetros de comprimento e uma fêmea entre dez ou dezoito centímetros. (Daqui)
 
 

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