Charles Webster Hawthorne (1872 -1930), A Primeira Viagem
"Homem Só, Meu Irmão!
Tu, a quem a vida pouco deu,
que deste o nada que foi teu em gestos desmedidos...
Tu, a quem ninguém estendeu a mão
e mendigas o pão dos teus sentidos,
Homem só, meu irmão!
Tu, que andas em busca da verdade
e só encontras falsidade em cada sentimento,
inventa, inventa amigo uma canção
que dure para além deste momento,
Homem só, meu irmão!
Tu, que nesta vida te perdeste
e nunca a mitos te vendeste
dura solidão
faz dessa solidão teu chão sagrado,
agarra bem teu leme ou teu arado,
Homem só, meu irmão!
Luiz Goes
Luiz Goes
Cantor, poeta e compositor português, Luiz Fernando de Sousa Pires de Goes nasceu a 5 de janeiro de 1933, em Coimbra. É uma das principais referências da canção de Coimbra e um dos artistas portugueses com maior currículo internacional, apesar de nunca se ter profissionalizado.
Luiz Goes começou a cantar muito cedo por influência do seu tio Armando Goes, nome muito considerado da canção coimbrã. Aos 14 anos já cantava em público e era considerado um menino-prodígio. Ainda na adolescência chegou a ser acompanhado por Artur Paredes, uma das maiores referências da guitarra portuguesa. Aos 19 anos gravou o seu primeiro disco, a convite de António Brojo. No liceu foi colega e amigo de José Afonso e António Portugal, tendo gravado vários álbuns em conjunto com ambos. Mas a sua maior influência sempre foi Edmundo Bettencourt.
Licenciou-se em Medicina, em Coimbra, em 1958. Nos seus anos de estudante cruzou-se com muitas figuras ilustres, entre outros Manuel Alegre, Miguel Torga, Bernardo Santareno, Teolinda Gersão e Yvette Centeno.
No final da década de 50 formou o Coimbra Quintet, com os instrumentistas António Portugal, Jorge Godinho, Manuel Pepe e Levy Batista. O disco Serenata de Coimbra (1957) é um dos álbuns mais vendidos da música portuguesa, em Portugal e no estrangeiro. Este quinteto teve uma projeção ímpar, mas uma vida breve. Com o recrutamento para a guerra colonial o grupo desfez-se e Luiz Goes foi colocado na frente da Guiné.
Depois mudou-se para Lisboa, onde exerceu a profissão de médico-estomatologista até à sua reforma, em 2003. Mas foi mesmo através da música que se notabilizou. É de resto um dos artistas portugueses mais internacionais. Entre outros espetáculos de grande relevo, destacam-se as suas atuações no Congresso da Cultura da Língua Portuguesa na Universidade de Georgetown (Estados Unidos), no aniversário das Nações Unidas (Suíça) e na homenagem a Beethoven (Áustria). Isto além de participações em programas televisivos em países como Brasil, Espanha, França, Suécia, Áustria, Estados Unidos e África do Sul.
Tem um extenso reportório, com muitas canções da sua autoria, algumas delas com mensagens subliminares de oposição ao regime salazarista. Entre outros temas, ficaram célebres "Homem Só", "Meu Irmão", "Balada do Mar", "É preciso acreditar", "Canção do Regresso", "Canção da Boneca de Trapo", "Canção para quase todos", "Canção Pagã" ou "Cantiga para quem sonha". Da sua extensa discografia, destacam-se os álbuns Coimbra do mar e da vida (1969), Canções de Amor e de Esperança (1969) e Canções para quase Todos (1983). Em 1998 foi editado o livro Luiz Goes de Ontem e de Hoje, da autoria de Carlos Carranca. E, em 2003, a Emi-Valentim de Carvalho lançou, numa caixa de quatro CDs, a sua obra completa.
Luiz Goes, que sempre defendeu que não existia um fado, mas sim uma canção de Coimbra, recebeu as mais altas distinções, entre as quais a de Grande Oficial da Ordem do Infante Dom Henrique, a Medalha de Ouro da Cidade de Coimbra, a Medalha de Mérito Cultural da Câmara Municipal de Cascais e o Prémio Amália Rodrigues 2005, na categoria Fado de Coimbra.
Luiz Goes. In Infopédia [Em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2012. [Consult. 2012-08-12].
Livro: "Luiz Goes. O Neo-Modernismo na Canção
de Coimbra ou o Advento da Escola Goesiana"
CRAVO, Jorge. LUIZ GOES. O Neo-Modernismo na Canção de Coimbra ou o Advento da Escola Goesiana. Edições Minerva Coimbra, 2009. In-8.º gr. de 239 -II pp. B. Ilustrado fora do texto com um Anexo Foto-Documental de 26 fotografias.
[Luiz Goes é, a partir da segunda metade do século XX, uma figura incontornável e acima de quaisquer suspeitas quanto à importância que tem na evolução da Canção de Coimbra].
"Homem Só, Meu Irmão" - Letra e música de Luiz Goes,
do álbum "Canções do Mar e da Vida" (1969)
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