quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

"Breve explicação do sentido da vida" - Texto de Vergílio Ferreira


Giovanni SegantiniBagpipers of Brianzac, 1883-85



Breve explicação do sentido da vida


Como exprimir em duas linhas o que venho tentando explicar já não sei em quantos livros? A vida é um valor desconcertante pelo contraste entre o prodígio que é e a sua nula significação. Toda a «filosofia da vida» tem de aspirar à mútua integração destes contrários. Com uma transcendência divina, a integração era fácil. Mas mais difícil do que o absurdo em que nos movemos seria justamente essa transcendência. Há várias formas de resolver tal absurdo, sendo a mais fácil precisamente a mais estúpida, que é a de ignorá-lo. 
Mas se é a vida que ao fim e ao cabo resolve todos os problemas insolúveis - às vezes ou normalmente, pelo seu abandono - nós podemos dar uma ajuda. Ora uma ajuda eficaz é enfrentá-lo e debatê-lo até o gastar... Porque tudo se gasta: a música mais bela ou a dor mais profunda. Que pode ficar-nos para já de um desgaste que promovemos e ainda não operamos? Não vejo que possa ser outra coisa além da aceitação, não em plenitude - que a não há ainda - mas em resignação. Filosofia da velhice, dir-se-á. Com a diferença, porém, de que a velhice quer repouso e nós ainda nos movemos bastante. 


Vergílio Ferreira, in "Um Escritor Apresenta-se"


Giovanni Segantini, Love at the Fountain of Life, 1896


"As paixões ensinaram a razão aos homens." 



Giovanni Segantini, The Punishment of Lust


"Não é o medo da loucura que nos vai obrigar a hastear a meio a bandeira da imaginação." 


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