segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

"Natal é quando o homem quiser" - Poema de Ary dos Santos



Fyodor Reshetnikov
(Soviet painter, 1906-1989), Home for the Holidays, 1948



Natal é quando o homem quiser



Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo-rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher.


 Ary dos Santos


Fyodor Reshetnikov, Paix, 1950


Fyodor Reshetnikov, Low Marks Again, 1952 
 
 
"Ao contrário do ouro e do barro, o verdadeiro amor, dividido, não diminui."
 


Paulo de Carvalho - Quando Um Homem Quiser

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