sábado, 3 de agosto de 2019

"Ode ao Tejo e à Memória de Álvaro de Campos" - Poema de Adolfo Casais Monteiro


Carlos Botelho (1899 - 1982), O Tejo e a ponte, 1968, Museu Calouste Gulbenkian



Ode ao Tejo e à Memória de Álvaro de Campos


E aqui estou eu,
ausente diante desta mesa -
e ali fora o Tejo.
Entrei sem lhe dar um só olhar.
Passei, e não me lembrei de voltar a cabeça,
e saudá-lo deste canto da praça:
"Olá, Tejo! Aqui estou eu outra vez!"
Não, não olhei.
Só depois que a sombra de Álvaro de Campos se sentou a meu lado
me lembrei que estavas aí, Tejo.

Passei e não te vi.
Passei e vim fechar-me dentro das quatro paredes, Tejo!
Não veio nenhum criado dizer-me se era esta a mesa em que Fernando
Pessoa se sentava,
contigo e os outros invisíveis à sua volta,
inventando vidas que não queria ter.
Eles ignoram-no como eu te ignorei agora, Tejo.

Tudo são desconhecidos, tudo é ausência no mundo,
tudo indiferença e falta de resposta.
Arrastas a tua massa enorme como um cortejo de glória,
e mesmo eu que sou poeta passo a teu lado de olhos fechados,
Tejo que não és da minha infância,
mas que estás dentro de mim como uma presença indispensável,
majestade sem par nos monumentos dos homens,
imagem muito minha do eterno,
porque és real e tens forma, vida, ímpeto,
porque tens vida, sobretudo,
meu Tejo sem corvetas nem memórias do passado...
Eu que me esqueci de te olhar!


Adolfo Casais Monteiro,

in "Poesia Portuguesa contemporânea"
org. Carlos Nejar, 1982 




Carlos Botelho, O Tejo, 1967



Tejo


Aqui e além em Lisboa – quando vamos
Com pressa ou distraídos pelas ruas
Ao virar da esquina de súbito avistamos
Irisado o Tejo:
Então se tornam
Leve o nosso corpo e a alma alada 

1994

Sophia de Mello Breyner Andresen

in Obra Poética, 2011



Carlos Botelho, Entrada da Barra, 1964


"Chegaram a Lisboa ao cair da tarde, na hora em que a suavidade do céu infunde nas almas um doce pungimento."

„Chegaram a Lisboa ao cair da tarde, na hora em que a suavidade do céu infunde nas almas um doce pungimento.“ — José Saramago 1928 - 2008

Referência: https://citacoes.in/topicos/lisboa/
„Chegaram a Lisboa ao cair da tarde, na hora em que a suavidade do céu infunde nas almas um doce pungimento.“ — José Saramago 1928 - 2008

Referência: https://citacoes.in/topicos/lisboa/

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