Beniamino Parlagreco (1856/1902), Paisagem do interior do Rio de Janeiro, c.1900,
óleo sobre madeira, 15,8 x 24 cm. Foto: Gedley Braga
Da espera
sucedem-se os dias húmidos por dentro da minha espera
adio o arco-íris o salto montês da cabra que trago no peito
grande a náusea perfuma a dor dos verões suspensos cegos
se aquece a alma erguida na ponta dos pés do desassossego
arredondam-se as estações neste gesticular incerto de índio
largo coração galego esqueço-me com coisas livres minúsculas
vermes róseos longos braços barcos à deriva que tenho do mar
espreito a fundo as horas que me separam do jazigo ou berço
de boca amarga à gargalhada empreendo a lágrima lúcida
solar se verte o sangue no circo dos ágeis dedos de não voar
queria-me eu apto e louro com olhos de maçã cheios de amor
já pestanejo as emoções seguintes que se anunciam verdes
no chegar do veado friorento que vem comer as ervas litorais
dobro-me à mulher à página ao morto inesperado e para quê?
Benjamino Parlagrecco, Leitura na Varanda, óleo s/ cartão (fim do século XIX)
"Os desgostos da vida ensinam a arte do silêncio."
(Séneca)
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