Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las.
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranquilas.
Petrópolis, 1948
'Belo Belo'
'Belo Belo' é o sétimo livro de poesia de Manuel Bandeira, publicado pela primeira vez em 1948. Com 32 poemas, em cada um deles “encontramos uma amostra valiosa da obra de um poeta erudito, de senso crítico e estético apurados. Manuel Bandeira foi seguramente o principal poeta que construiu e orientou, ao lado de Mário de Andrade, os novos rumos da nossa arte lírica, num trabalho permanente de pesquisa e renovação da poesia brasileira do século XX”, descreve Aleilton Fonseca, professor titular da Universidade Estadual de Feira de Santana (BA) na apresentação.
Ao longo da leitura dos poemas que integram essa obra, é permanente a sensação de estarmos diante de preciosidades do repertório de um dos maiores artistas brasileiros da palavra. Conhecido como o responsável por inspirar os modernistas, Bandeira traz o convívio com amigos em poemas como “A Mário de Andrade ausente”, “Esparsa triste” (em alusão a Jaime Ovalle), “Resposta a Vinicius” e “Improviso”, este em homenagem a Cecília Meireles. Sua proximidade com a morte, graças à tuberculose que o ameaçou desde a juventude, nesse Belo Belo reaparece no poema “O homem e a morte”, assim como outra realidade se desenha em “O bicho” e uma nova perspectiva de encarar o amor em “Arte de amar”.(Daqui)
Velha chácara
A casa era por aqui...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida… nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
Onde? Procuro-a e não acho.
Ouço uma voz que esqueci:
É a voz deste mesmo riacho.
Ah quanto tempo passou!
(Foram mais de cinquenta anos.)
Tantos que a morte levou!
(E a vida… nos desenganos...)
A usura fez tábua rasa
Da velha chácara triste:
Não existe mais a casa...
– Mas o menino ainda existe.
In 'Lira dos cinquent’anos', 1940
no livro “Jardim de Haijin”
(Haicai / Haikai)
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